Ricardo Zózimo – Professor de Gestão na Nova School of Business and Economics

O Papa Francisco convocou os jovens de todo o mundo para repensar a economia num evento chamado Economia de Francisco. Há cerca de 3 anos, numa carta dirigida a economistas jovens, empreendedores e cientistas, Francisco convidou todos a encontrarem-se em Assis para repensar as estruturas e sistemas económicos do mundo. Depois de três anos de tentativas adiadas por causa da pandemia, o encontro destes mais de cinco mil jovens realiza-se em Setembro de 2022 em Assis.

E como devem imaginar as expectativas são grandes. Por um lado, o movimento Economia de Francisco foi-se ligando e trabalhando através das redes sociais e do trabalho remoto. De todas as partes do mundo foram chegando exemplos e histórias do bem que é feito em pequena escala. Foram-se também organizando cursos para formar as mentes e as ideias acerca das mudanças possíveis nos sistemas e estruturas económicas, e claro foram-se estabelecendo contactos com outros que estão a trabalhar de uma forma diferente no sector económico.

Mas a ideia do Papa de criar uma mudança sistémica – que mude estruturas e sistemas – requer mais do que a partilha de bons exemplos: exige que se crie uma onda de mudança maior do que qualquer projeto ou pessoa. A ideia aqui é simples: o bem-estar da sociedade encontra-se de tal forma ligada à economia que a procura de melhores condições de vida para todos tem de passar seguramente por sistemas económicos mais justos, mais inclusivos e de maior fraternidade. E mudar estas três dimensões ao mesmo tempo é onde o foco da Economia de Francisco tem de estar.

Criar sistemas económicos mais justos passa em primeiro lugar por perceber onde estão as decisões e os critérios que levam à injustiça. Procurar a justiça é sobretudo buscar melhores critérios para uma distribuição mais eficiente dos benefícios económicos gerados pela sociedade. É neste campo que penso que as políticas para a felicidade mais abrangentes – onde olhamos para o que na realidade faz as pessoas felizes – deveríamos apostar. Aqui, a solução que estamos a propor é um novo olhar sobre os critérios que podem fazer a nossa vida feliz. Ao mudar os critérios muda também o nosso olhar sobre a injustiça e abrem-se inúmeras possibilidades de criar sistemas mais justos que ao serem criados agora não carregam com eles os vícios do passado.

Criar sistemas mais inclusivos é sobretudo sobre o acesso que todos devemos ter aos benefícios gerados pela sociedade. Aqui dois dos grupos de trabalho que se focam no papel das finanças para o bem comum e no papel das mulheres na economia têm demonstrado que é possível definir propostas que cheguem até mais pessoas e incluir outros no desenvolvimento económico. O que estes grupos de trabalho também nos mostram é a riqueza de soluções que a diversidade traz! Isto é critico pois permite-nos acreditar que melhores soluções são possíveis e desejáveis.

Criar sistemas mais fraternos está intimamente ligado à ideia de o encontro ser em Assis. Assis reflete o potencial de transformação que a criação de sistemas mais fraternos pode ter. Foi aqui que S. Francisco, com a sua inteligência, ação e emoção rompeu com o seu sistema para criar algo que era ecologicamente equilibrado, socialmente justo e sobretudo economicamente fraterno. Criar uma Economia de Francisco fraterna, onde o foco seja no bem comum, é seguramente um dos objetivos do Papa Francisco. Os jovens portugueses estão prontos para trazer de Assis vontade e modelos para refundar a nossa economia.