Quarenta e sete distritos africanos foram afetados pela pandemia, com 5.657.884 casos positivos acumulados e 137.055 mortes, segundo dados de junho de 2021 do Gabinete Regional da OMS para África. Apesar de todas as dificuldades, o processo de vacinação da covid-19 está a levar à recuperação do continente. Até agora, foram administradas mais de 7 milhões de doses da vacina contra a covid-19, sendo que os países africanos receberam vacinas mais tarde do que outras regiões do mundo, e em quantidade limitada. “Algumas semanas após o lançamento das vacinas, alguns países estavam quase a esgotar os seus abastecimentos iniciais”, refere a OMS.

Mesmo para um nível relativamente baixo de acesso às vacinas, a aceitação é outro obstáculo. Há uma atitude geral de que África está a receber doações de segunda classe. Vários cidadãos de países africanos estão agora céticos em aceitar as poucas doses disponíveis. Segundo uma reportagem da BBC, o Malawi destruiu quase 20.000 doses da vacina AstraZeneca expiradas, enquanto o Sudão do Sul anunciou que iria destruir 59.000 doses. Perante este cenário, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) apela para que os países que pretendam doar vacinas as disponibilizem suficientemente cedo para que possam ser usadas a tempo. Para além destas situações, existem outros fatores religiosos, culturais e políticos que influenciam a aceitação da vacinação.

A pandemia no Quénia
Já se passaram dois anos desde que o Quénia registou o primeiro caso de covid-19. Registaram-se 4.757 mortes e mais de 239.000 infeções. Quando o primeiro caso foi confirmado houve raiva, indignação e total desconfiança dirigida ao governo. Os quenianos sentiram que o governo os tinha traído. Os voos da China, nomeadamente Wuhan, o epicentro da pandemia, tinham continuado a aterrar no Quénia, apesar do perigo evidente que se colocava.

Os meios de comunicação locais tinham relatado várias chegadas de cidadãos chineses provenientes de cidades pandémicas muito antes do Ministério da Saúde do Quénia poder implementar protocolos como o distanciamento físico, os bloqueios, a quarentena, o rastreio ou o isolamento. O Ministério da Saúde teve de dar conferências de imprensa diárias para dar resposta a questões colocadas e prestar informações e diretivas sobre a contenção da pandemia. O país recebeu 2,79 milhões de doses e administraram-se 806.000 doses, o que representa apenas 1,5 por cento da população total.

O perigo da desinformação
A descoberta de uma vacina foi acompanhada pela divulgação de informação falsa. Além do combate à covid 19, a OMS teve também de lutar contra a desinformação. Segundo o Centro para o Controlo de Doenças (CDC), a disseminação de informação falsa nas redes sociais e noutros canais tem a possibilidade de afetar a confiança na vacina contra covid-19. Com o objetivo de combater a desinformação, os especialistas Gabor Kelen e Lisa Maragakis, do John Hopkins Medicine, apresentaram um conjunto de factos:

Falso: A vacina contra a covid-19 pode afetar a fertilidade das mulheres

Verdade: A vacina não afeta a fertilidade. Ela ‘ensina’ o sistema imunológico a combater o vírus. Por outro lado, adoecer com covid-19 pode ter um impacto potencialmente sério na gravidez e na saúde da mãe.

Falso: Se já tive covid-19, não preciso de uma vacina.

Verdade: As pessoas que tiveram covid-19 podem beneficiar da vacinação. Devido aos graves riscos para a saúde associados à covid-19 e ao facto de ser possível a reinfeção, as pessoas podem ser aconselhadas a vacinarem-se, mesmo que já tenham estado infetadas.

Falso: Os investigadores apressaram o desenvolvimento da vacina covid-19, pelo que não se pode confiar na sua eficácia e segurança.

Verdade: Estudos mostram que as duas vacinas iniciais são cerca de 95 por cento eficazes e não reportaram efeitos secundários graves ou com risco de vida. Uma vez que a covid-19 é tão contagiosa e generalizada, não foi necessário muito tempo para verificar que a vacina funcionava entre os voluntários vacinados no âmbito do estudo.

Falso: Com a vacina posso deixar de usar máscara e de tomar precauções.

Verdade: O Centro de Controlo de Doenças continua a monitorizar a propagação da covid-19 e faz recomendações para utilização de máscaras de proteção facial e de medidas de distanciamento.

Falso: Ao ser vacinado posso ficar com covid-19

Verdade: A vacina não transmite covid-19. As duas vacinas autorizadas para o mRNA instruem as células a reproduzir uma proteína que faz parte do coronavírus SARS-CoV-2, o que ajuda o corpo a reconhecer e combater o vírus. A vacina não contém o vírus SARS-Co-2, por isso não se pode adoecer com covid-19.
A proteína que ajuda o sistema imunológico a reconhecer e combater o vírus não causa qualquer tipo de infeção.

Falso: Os efeitos secundários da vacina são perigosos.

Verdade: Em abril de 2021 o Centro de Controlo de Doenças procedeu a uma pausa temporária, mas retomou
o uso da vacina da Johnson & Johnson.
As vacinas da Pfizer e da Moderna para a covid-19 podem ter efeitos colaterais, mas a grande maioria são de muito curto prazo, não sendo sérios ou perigosos. Os criadores de vacinas relatam que algumas pessoas sentem dores onde foram vacinadas, no corpo, na cabeça ou febre, que duram um dia ou dois. Estes são sinais de que a vacina está a estimular o sistema imunitário.

Falso: A vacina covid-19 entra nas células e altera o ADN

Verdade: As vacinas são projetadas para ajudar o sistema imunológico do corpo a combater o coronavírus. O RNA mensageiro de dois dos primeiros tipos de vacinas para a covid-19 entra nas células, mas não no núcleo das células onde o ADN reside. O mRNA faz o seu trabalho para fazer com que a célula produza proteínas para estimular o sistema imunitário, e depois rapidamente se decompõe, sem afetar o ADN.

Falso: A vacina covid-19 foi desenvolvida com ou contém substâncias controversas

Verdade: As duas primeiras vacinas a serem autorizadas pela FDA contêm mRNA e outros ingredientes normais de vacinas, tais como gorduras (que protegem o mRNA), sais, bem como uma pequena quantidade de açúcar. Estas vacinas contra a covid-19 não foram desenvolvidas com tecido fetal, e não contêm qualquer material, como implantes, microchips ou dispositivos de rastreio.

Falso: Agora que temos uma vacina para a covid-19, podemos fazer mais para a constipação comum, o HIV
e outras doenças

Verdade: Os milhares de vírus que causam várias doenças são muito diferentes. Muitas mudanças (mutações) ano após ano dificultam o desenvolvimento de uma vacina que funcione por um longo período de tempo. Desenvolver vacinas para alguns vírus causadores de doenças é difícil. Por exemplo, o vírus que causa o HIV pode esconder-se e tornar-se indetetável pelo sistema imunitário humano, o que torna a criação de uma vacina extremamente difícil. A constipação comum pode ser causada por qualquer uma das centenas de vírus diferentes, por isso uma vacina para apenas um deles não seria muito eficaz.

Texto: Frenny Jowi, jornalista e consultora de media