O presidente da república da Guiné–Conacri, Alpha Condé, de 83 anos, foi derrubado do poder, no passado dia 5 de setembro, por um golpe de Estado liderado por Mamady, um tenente-coronel das forças especiais, criadas para combater a ameaça do terrorismo islâmico. Eleito em 2020, após ter promovido uma reforma constitucional que lhe permitiu concorrer a um terceiro mandato presidencial, o ex-presidente da União Africana junta-se ao rol de políticos que parecem não ter aprendido as lições da história do seu país.

Antigo professor de Direito em França, onde residiu durante cerca de 45 anos, Alpha Condé tem um passado de oposição, no exílio, facto que o não livrou de ser condenado à morte por Sékou Touré, que liderou os destinos da Guiné-Conacri entre 1958 e 1974. Alpha Condé regressa ao país apenas em 1991, ao abrigo de um acordo assinado com o então presidente Lansana Conté. No entanto, o seu percurso na oposição acabará por o conduzir à cadeia, em 2000. Depois de 20 meses de detenção sem acusação, acabará condenado por um tribunal especial a cinco anos de prisão, por desrespeito da autoridade do Estado e atentado à integridade nacional. Um ano mais tarde, Alpha Condé é libertado por ocasião de um perdão presidencial.

Passados quase 50 anos de oposição, em 2010, Condé é eleito presidente, após umas disputadas eleições, que começaram por lhe dar apenas 18 por cento dos votos na primeira volta. Não obstante a sua longa experiência na oposição, os seus três mandatos ficaram marcados por uma liderança autoritária e traduziram-se em perseguições e detenções de opositores políticos. À contestada liderança política junta-se uma situação económica considerada das piores da região.

Como no Mali e no Chade
A Guiné-Conacri é a detentora das maiores reservas mundiais de bauxite (de onde se extrai o alumínio), tem importantes recursos em ferro, ouro e diamantes. Os recursos naturais têm garantido o crescimento económico, mas isso não se reflete no desenvolvimento do país. Segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), 44 por cento da população vive abaixo do nível nacional de pobreza, avaliado em 1,1 euros por dia. Em 2018, a economia informal representava 43 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) e atingia 96 por cento dos empregos. A agricultura emprega 52 por cento da população ativa, mas apenas contribui com 23 por cento para o PIB. Aos maus indicadores da saúde, da educação e da mortalidade infantil junta-se o drama do desemprego, que atinge cerca de 80 por cento dos jovens.

A situação política e económica do país constitui a principal margem de manobra de Mamady Doumbouya, o novo homem forte que tem contado com o apoio da oposição. A nível internacional, a condenação do golpe de Estado foi unânime, fazendo pairar a ameaça de sanções económicas. No entanto, a exemplo do que aconteceu com os golpes de Estado no Mali e no Chade, Mamady Doumbouya não deixará de contar com a tolerância internacional, caso cumpra a promessa de retomar a ordem constitucional do país.

Texto: Carlos Camponez