Outubro é o mês missionário, e, por isso, é especial para todos os que se dedicam à missão, mas é ainda mais excecional para Albino Brás, ordenado sacerdote a 20 de outubro de 1996. Aos 56 anos, o religioso celebra as suas boas de prata sacerdotais, e recorda que tudo começou quando um missionário da Consolata foi à sua escola, em Alvaiázere, distrito de Leiria, falar das missões. Albino entrou para o Seminário dos Missionários da Consolata em Fátima em outubro de 1979. Em diferentes países, estudou Filosofia, fez o noviciado, licenciou-se em Teologia, fez um estágio pastoral, e defendeu com distinção em Madrid a sua tese de mestrado na área da Moral, Ética e Bioética, a qual mais tarde deu origem a um livro.

“Recordo que o meu tutor da tese de mestrado, Javier Gafo, ficou muito orgulhosos de mim, pois tive a nota máxima – 20 – na defesa da tese, e até me fez a proposta de ficar como docente numa das universidades dos Jesuítas. Como eu já estava destinado ao Brasil pela Direção Geral da Consolata, propôs-me ser professor em Belo Horizonte, onde havia vaga para um professor nesta área. Como não dependia só de mim, e eu queria primeiro fazer uma experiência forte de missão, acabei por não explorar esse campo de estudo, ainda que nos anos seguintes tenha feito várias conferências e escrito vários artigos sobre essa temática.”

A ordenação sacerdotal aconteceu em 1996, um ano emocionalmente forte. “A minha mãe tinha falecido três anos antes, e o meu pai e um irmão faleceram no ano da minha ordenação. Recordo que uma pergunta se repetia na minha cabeça: ‘Porquê?’. Outras perguntas existenciais iam aparecendo. A tentação de abandonar tudo, também se fez presente. Senti, mais que nunca, que não podia confiar apenas nas minhas próprias forças. Deus provou a minha fé, mas não sucumbi. A resiliência foi a palavra de ordem. Agarrei ainda com mais força a minha vontade de ser padre. No dia da minha ordenação sacerdotal foi tudo muito profundo. Eles estavam mais presentes que os presentes, ainda que de outra forma.”

O trabalho missionário prosseguiu nas favelas no Rio de Janeiro entre maio de 1997 e janeiro de 2005. “Nas primeiras reuniões de conselho e assembleias da paróquia, notei que havia fortes divisões na comunidade, com grupos que se enfrentavam, por razões várias. Comecei a promover dois retiros anuais obrigatórios para todos os agentes pastorais e encontrámos paz, a comunidade amadureceu muito. O que me levou a perceber a importância da espiritualidade como cimento para formar comunidades de fé e de vida.”

A missão passou também pelo Bairro do Zambujal, na Amadora, a partir de setembro de 2012, e prolongou-se por quatro anos. “Os maiores desafios que ali encontrei foi o da multietnicidade: do diálogo e trabalho pastoral comprometido, e nem sempre fácil, entre povos de origem africana, cigana e outras.” Deixou o Bairro do Zambujal no final de 2016, para assumir o cargo de diretor da revista ‘Fátima Missionária’, o qual deixou antes da pandemia, mas mantendo-se como colaborador.

Atualmente é o superior da comunidade da comunidade dos Missionários da Consolata nos Olivais, em Lisboa, e desempenha diversas funções em variados âmbitos. O missionário é o coordenador das ESPERE – Escolas de Perdão e Reconciliação em Portugal, e integra o movimento internacional SAPERE – Sacerdotes pelo Perdão e a Reconciliação. Assim que a pandemia o permita, pretende “continuar a promover e a realizar os Cursos ESPERE”, que procuram criar a cultura do perdão e da reconciliação. “Aqui estou, 25 anos depois, fortalecido pela fé e pela memória agradecida daqueles que já partiram.”