Foto: EPA / Nabil Mounzer

A continuidade da prestação de serviços essenciais de saúde no Líbano está a preocupar de forma séria os Médicos Sem Fronteiras (MSF). Em comunicado, a organização humanitária explica que a “redução no fornecimento de combustível e medicamentos está a fazer com que o sistema de saúde do Líbano se desintegre rapidamente enquanto o país, que está sem governo há um ano, passa por uma das piores crises económicas do mundo”. João Martins, coordenador-geral dos MSF no Líbano, dá conta de alguns dos problemas enfrentados pelos profissionais de saúde no país.

“Os hospitais estão a racionar os seus serviços e a priorizar pacientes. As pessoas agora podem morrer de causas totalmente evitáveis e facilmente tratáveis, só porque os hospitais não têm eletricidade, os suprimentos certos ou equipas. A crise no Líbano foi impulsionada por anos de corrupção e agora vemos que isso pode contribuir para a destruição de todo um sistema de saúde com a mesma eficácia que uma guerra ou um desastre natural. O vazio político no país não é apenas a causa desta crise de saúde, mas também está a bloquear as soluções para ela. As autoridades precisam de agir agora para evitar consequências ainda piores para as pessoas que vivem no Líbano”, disse o responsável, citado pelos serviços de comunicação dos MSF.

Segundo a organização humanitária, a crise económica no Líbano tirou à população o seu poder de compra, provocou uma “inflação sem precedentes”, e “bloqueou a importação de combustível para o país”. De acordo com os MSF, os hospitais “têm experimentado quedas diárias de energia que duram horas devido aos cortes na rede elétrica nacional e à escassez de óleo diesel para os seus geradores de reserva”. Joanna Dibiasi, coordenadora de atividades de obstetrícia do projeto dos MSF no sul de Beirute, identifica outros dos problemas vividos no país. “É extremamente preocupante ver pessoas cujas condições eram estáveis, mas agora estão a piorar novamente porque não conseguiram ter acesso aos medicamentos que precisavam”, referiu a profissional.

João Martins assegura que a organização humanitária continuará dedicada ao auxílio desta população. “Continuamos empenhados em fornecer assistência médica imparcial às pessoas mais vulneráveis com o melhor da nossa capacidade, mas as ações necessárias devem ser tomadas pelas autoridades libanesas para garantir que serviços médicos essenciais sejam fornecidos às pessoas. [As autoridades] precisam de agir para que medicamentos, bens essenciais e combustível sejam acessíveis no país. Os atores humanitários não podem substituir o sistema de saúde de um país inteiro”, alertou o coordenador-geral dos MSF no Líbano.