Em agosto de 2006, dois sacerdotes e três missionárias leigas partiram para angola para a missão de Gungo, no Sumbe. Ví­tor Mira conta as tribulações de um troço atribulado desta viagem
Em agosto de 2006, dois sacerdotes e três missionárias leigas partiram para angola para a missão de Gungo, no Sumbe. Ví­tor Mira conta as tribulações de um troço atribulado desta viagemToca o despertador. São cinco da madrugada. É escuro. Os primeiros passos são à luz das velas de consumo rápido made in China. Higiene pessoal, mata-bicho, merenda para dois dias na mochila, uma caixa de água e partida para o armazém da Caritas.
Com a ajuda das missionárias Catarina, Vera e Sónia carregámos o jipe de caixa aberta que o padre Simões, do seminário, nos emprestou para levarmos as chapas de dois metros. Para enfrentar eventuais situações de dificuldade levámos as ferramentas, barramina, ponteiros, corrente e cabo de aço.
Às 7 horas, eu e o padre David Nogueira partimos, rumo à Donga. Desta vez as nossas missionárias ficaram no Sumbe. Já na véspera tínhamos carregado o camião de marca IFa. Levava cimento, tijolo, barrotes, ripas e vigas em madeira e ainda as chapas de cobertura, com quase seis metros de comprido, que chegaram no contentor.
O camião dormira no Eval Guerra, onde terminam os 80 quilómetros de asfalto e começa a picada do Gungo (50 quilómetros para chegar à Donga, sede da missão). Partira antes da nossa chegada, às 6 horas. Devia levar-nos um bom avanço.
Esperávamos avistar o nosso IF a ao virar de uma curva. acabou por se dar num sítio chamado Gundo, logo a seguir a uma ponte de paus. O camião lutava, à meia hora, para escalar a íngreme subida. a picada está cada vez pior. Há muitos anos que não beneficia de qualquer reparação de fundo.
Saía do escape muito fumo negro, poeira no ar, corpos transpirados e já exaustos. Pegámos na pá, na picareta e na barramina e demos a nossa ajuda. Cavámos, colocámos pedras e mudámos outras de sítio. Em cada tentativa, o camião avançava um pouco mais. Chegava sempre a um ponto que não conseguia superar.

a cabina saltava para cima e para baixo, dançava para a direita e para a esquerda, Sempre a patinar, cheiro a borracha queimada, o IF a recuava, as rodas da frente levantavam-se e apoiava traseira no chão. Graças a Deus, o senhor José Vicente era motorista experiente e calmo.

ao fim de hora e meia, concluímos que a solução seria tirar um bocado da carga. Descarregámos as chapas compridas. Para prevenir alguma situação desagradável, ficou a guardá-las o alberto, que acompanhava o camião desde a saída do Sumbe.

alijada a carga, o camião lá subiu o íngreme e pedregoso morro do Gundo. Já passava do meio-dia. Só estavam percorridos cerca de 20 quilómetros de picada. Muito devagar devido ao mau estado da via, com frequentes tombos à direita e à esquerda por causa dos buracos, quase a fazer lembrar um barco, lá foi seguindo rumo à Donga. Nós seguimos atrás, caso preciso algum apoio.
(Continua)