Júlio Caldeira, Missionário da Consolata Diretor de comunicação da Rede Eclesial Pan-Amazónica (REPAM)

O Dia Internacional dos Povos Indígenas é celebrado a 9 de agosto. A data é uma ocasião para lembrar que somos chamados a promover e a proteger os seus direitos, mas também a agradecer pela sua contribuição na proteção da Casa Comum. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), “existem cerca de 370 a 500 milhões de indígenas no mundo, espalhados por 90 países”, organizados em mais de 5 mil culturas e 7 mil idiomas. Essa diversidade cultural é uma riqueza que faz com que a ONU reconheça que as “comunidades indígenas são líderes na proteção do meio ambiente”, pois “lutam contra as alterações climáticas todos os dias”, visto que as suas áreas florestais “armazenam pelo menos um quarto de todo o carbono das florestas tropicais”.

Ao escrever a exortação apostólica “Querida Amazónia”, o Papa Francisco recordou que a “sabedoria dos povos nativos da Amazónia inspira o cuidado e o respeito pela criação, com clara consciência dos seus limites, proibindo o seu abuso”. “Abusar da natureza significa abusar dos antepassados, dos irmãos e irmãs, da criação e do Criador, hipotecando o futuro” (QA, 42).

Somos chamados a levantar as nossas vozes em todo o mundo – África, América, Ásia, Europa, Oceania – e a denunciar os atropelos contra os direitos básicos dos povos indígenas, cometidos por interesses de alguns grupos económicos e políticos que só pensam no lucro, sem pensar nos grandes danos causados à natureza, aos povos, especialmente aos mais pobres, e que têm consequências visíveis em todo o planeta. As ameaças históricas contra os povos indígenas podem ser consideradas “outras pandemias”, além daquelas que são muito visíveis neste tempo de pandemia da covid-19.

Como denuncia a carta elaborada em fevereiro de 2021 pelos povos da Amazónia e instituições aliadas na defesa dos seus direitos e no cuidado da Casa Comum, o “extrativismo dos setores mineiros, agroempresariais, energéticos e de megaprojetos”, assim como as crises climáticas, “agravam as inundações, secas, incêndios e doenças”. A par destes problemas surgem o “racismo e a discriminação contra os povos indígenas”, como se está a ver no Brasil e em diversas partes do mundo. Aprendamos dos povos indígenas o amor e o cuidado da Casa Comum! Defendamos os guardiões da Casa Comum, as suas vidas e territórios, para que tenham “vida em abundância” (cf. Jo 10,10)!