As equipas dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) trabalham em duas dinâmicas distintas na maior parte dos países onde estão presentes: por um lado, procuram conter a Covid-19, e, por outro, trabalham para manter os serviços habituais de saúde para as doenças mais comuns em cada região. No entanto, no Sudão do Sul, as preocupações são ainda maiores, devido às ondas de violência e à época das chuvas, que dificultam ainda mais as deslocações, que já são restritas devido à atual pandemia.

As populações das regiões de Jonglei e Grande Pibor sofrem com “ciclos repetidos de conflitos violentos entre as comunidades”, referem os MSF, adiantando que a escalada mais recente levou à deslocação de milhares de pessoas. Segundo a organização humanitária, muitas dessas pessoas “continuam a viver na mata, sem as mínimas condições, já que faltam cuidados de saúde, abrigo, comida, água e saneamento”.

“Perdi cinco membros da minha família. Depois de ter sido ferido, fui transportado numa maca carregada por vários homens. Demorámos 11 dias para chegar a Pieri. Houve fortes chuvas que nos atrasaram”, lamenta Peter, de 43 anos de idade, residente em Modit, no estado de Jonglei.

O coordenador de emergências dos MSF em Pibor, Josh Rosenstein, traça igualmente um cenário dramático. “Ficamos preocupados ao ouvir os depoimentos dos nossos pacientes e da nossa equipa sobre o impacto que a violência dos últimos meses teve nas pessoas. As pessoas continuarão a enfrentar dificuldades por algum tempo, muitas perderam a família, as suas casas, segurança socioeconómica, dignidade e precisam de cuidados básicos de saúde”, alerta o responsável.

Através de uma clínica móvel, em funções fora do centro da cidade de Pibor, e da unidade de saúde de emergência, os MSF já efetuaram mais de 1.500 consultas, distribuíram redes mosquiteiras e forneceram cuidados pré-natais a quase 300 grávidas. A residir em Pibor, Marta, de apenas 19 anos, dá conta das dificuldades enfrentadas na região.

“Temos vivido uma vida miserável. Tudo começou em fevereiro e nunca esperaríamos que essa situação durasse tanto. Corri para a mata com minha filha que tinha três meses de vida. Ela estava doente e morreu em julho. Hoje, é a primeira vez que tenho acesso a um posto de saúde desde fevereiro”, refere Marta, numa nota dos MSF divulgada na passada sexta-feira, 21 de agosto.