Eugénio da Fonseca, Presidente da Confederação Portuguesa do Voluntariado

Perante a atual crise sanitária tenho-me deparado com olhares diferentes sobre esta pandemia. Socorri-me do pensamento do teólogo Leonardo Boff para refletir sobre eles. Uns aparecem como “escatologizadores” que olham para a atualidade como uma catástrofe, como decomposição e fim (éschaton) da ordem e da continuidade. Há os que se fixam numa certa fuga para o passado em vez de verem o que de positivo se poderá tirar desta crise; são os “arcaizantes”. Ao contrário destes, temos os que se direcionam para o futuro sem qualquer preocupação com o que se está a passar. Outros encaram a Covid-19 como uma oportunidade de nova vida, de levar a história por diante e de repensar o sentido da vida. Na opinião de Boff, estes “definem-se por um ‘a favor’ e não simplesmente por um ‘contra’”.

São aqueles e aquelas que venceram o medo e se apresentaram para assumirem as primeiras fileiras do exército, levando consigo as armas do conhecimento, do profissionalismo, do bom senso, da gratuidade, do afeto, do risco, da resiliência, da alegria, da coragem, da esperança, da compaixão. A defesa da vida foi o grito para iniciar o combate e mantê-lo ativo. A solidariedade é o hino que anima o caminhar. Impressiona o tom elevadíssimo da sua melodia.

Às armas referidas, junto aquelas que todos deveremos saber usar: a gratidão. Que ela se expresse num grito bem audível que nos brote do pedaço de alma que está bem perto do coração. Que esse grito penetre o âmago dos que colaboram nos hospitais e centros de saúde; dos que cuidam da nossa segurança; das corporações de bombeiros; dos colaboradores assalariados e voluntários das diferentes instituições sociais e das coletividades; dos funcionários das câmaras municipais e das juntas de freguesia; das diferentes confissões religiosas; dos políticos, governantes ou não, que souberam dignificar a sua missão; das famílias dos doentes e dos que já pereceram, pela serenidade demonstrada; dos que, anonimamente, se voluntariaram; dos que, porventura, não mencionei, mas estão na memória mais sublime que é a de Deus.

Estes combatentes estão a lutar para romperem o “casulo” que envolve esta pandemia, pois dela há de sair uma crisálida que se transformará em borboleta, como sinal irradiante e belo da vida.

Texto: Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa