Os responsáveis por 29 empresas de investimento, com ativos superiores a 3,75 biliões de dólares, enviaram uma carta conjunta aos embaixadores brasileiros nos seus países a manifestar apreensão com o impacto do aumento da desflorestação amazónica nas suas atividades.

“O desmantelamento das políticas ambientais e de direitos humanos está a criar uma incerteza generalizada sobre as condições de investimento ou prestação de serviços financeiros ao Brasil”, refere a missiva enviada às embaixadas brasileiras na Noruega, Suécia, França, Dinamarca, Países Baixos, Estados Unidos (EUA) e Reino Unido.

No documento, citado pela agência Lusa, os signatários destacam, como motivo de maior preocupação, os projetos de lei para legalizar a ocupação de terras públicas e permitir a mineração em territórios indígenas. E criticam o atual ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que numa reunião de gabinete realizada em abril passado sugeriu que o governo aproveitasse o facto de a atenção da opinião pública estar concentrada na pandemia de Covid-19 para flexibilizar regras de controlo ambiental e permitir a expansão das atividades produtivas na Amazónia.

“Ao considerarmos o aumento das taxas de desmatamento no Brasil, estamos preocupados que as empresas expostas ao potencial desmatamento nas suas operações e cadeias de fornecimento brasileiras enfrentem dificuldades crescentes no acesso aos mercados internacionais. As obrigações soberanas brasileiras também são suscetíveis de serem consideradas de alto risco se a desflorestação continuar”, sublinham os gestores de ativos.

A desflorestação da Amazónia brasileira aumentou 54 por cento nos últimos 10 meses face ao período imediatamente anterior, com um total de 4.567 quilómetros quadrados de floresta destruída entre agosto do ano passado e maio de 2020, segundo o Sistema de Alerta ao Desmatamento da organização não-governamental Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazónia (Imazon).

Recorde-se que, por causa da política ambiental do governo brasileiro, alguns membros do Parlamento Europeu disseram que votariam contra a ratificação de um acordo de livre comércio entre a União Europeia e a união aduaneira do Mercosul, que inclui o Brasil, assinado em junho, após duas décadas de negociações.