A pandemia do coronavírus colocou em evidência as décadas de abandono e falta de atenção à saúde mental e agora, perante um possível aumento dos suicídios e do abuso de drogas, fruto da depressão e ansiedade causadas pelo confinamento, o secretário-geral das Nações Unidas apela aos governos que assumam compromissos ambiciosos para enfrentar a questão das doenças psicológicas.

Na apresentação do relatório de atuação sobre os efeitos da Covid-19 na saúde mental, António Guterres destacou que os cidadãos em maior risco neste momento são os trabalhadores sanitários, os idosos, adolescentes e jovens, as pessoas com problemas de saúde mental anteriormente diagnosticados e as que foram apanhadas por conflitos e crises.

Segundo o líder da ONU, os problemas psicológicos, como a depressão e a ansiedade, “ constituem algumas das maiores causas de sofrimento no nosso mundo” e custavam à economia mundial cerca de um bilião de euros por ano, antes da pandemia. Com base nos dados apresentados, a depressão afeta 264 milhões de pessoas, cerca de metade dos problemas de saúde mental começam a manifestar-se aos 14 anos, e o suicídio é a segunda causa de morte nos jovens entre 15 e 29 anos.

O relatório especifica ainda que nesta situação de crise são as mulheres e as crianças quem corre maior risco físico e mental, pois sofrem com o aumento da violência e dos abusos nos seus próprios lares. Por outro lado, a angústia tem tendência a agravar-se com informações erradas sobre o vírus e as medidas de prevenção e com a incerteza em relação ao futuro, sobretudo pelo facto de poder não ter ser possível “despedir-se dos seus entes queridos e celebrar-lhes um funeral”.

Guterres apela, por isso, que os governos a nível mundial integrem os cuidados de saúde mental nas suas estratégias para combater o coronavírus, uma vez que o investimento médio nacional neste tipo de atenção médica é de apenas dois por cento.