A epidemia de sarampo matou mais de 6.600 crianças na República Democrática do Congo (RDC) desde janeiro de 2019. Apesar das campanhas de vacinação levadas a cabo pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelas autoridades daquele país africano no passado mês de dezembro, foram registados centenas de casos da doença na zona de Boso Manzi no início deste ano. Com o objetivo conter a doença, os Médicos Sem Fronteiras (MSF) enviaram uma equipa de emergência para o local, para avaliar a situação, lançar uma nova campanha de vacinação e apoiar o atendimento aos pacientes.

Devido à epidemia de Ébola, a resposta ao surto de sarampo naquele país africano sofreu com a falta de atenção desde o início, lamentam os MSF. Segundo a organização humanitária “levou meses até que a epidemia fosse declarada, em junho de 2019, e as campanhas de vacinação das autoridades sofreram atrasos significativos, com problemas de coordenação e a falta de parceiros, que estavam muito focados na gestão da crise do Ébola”. Apesar de planeadas dois anos antes, as “atividades de vacinação complementares só começaram em outubro de 2019”, acrescentam os médicos, adiantando que tal situação “contribuiu para o número elevado de casos no país”. “A epidemia de sarampo é a mais mortal da RDC. E a maior do mundo”, alerta a organização.

Segundo Emmanuel Lampaert, coordenador de operações dos MSF na RDC, atualmente o “número de casos caiu no total, mas a epidemia está longe do fim e algumas áreas estão a registar aumentos”. “É necessária uma ação urgente em cerca de 100 zonas de saúde. Desde janeiro, mais de 50 mil casos de sarampo foram registados oficialmente e mais de 600 mortes. Muitas das áreas com aumento de notificações e mortes nem sequer estão incluídas no último plano nacional de resposta”, refere o responsável.

É neste contexto já difícil, que surgem novos obstáculos à vacinação devido à Covid-19. “É crucial implementar medidas de prevenção contra o novo coronavírus para proteger populações e profissionais de saúde, especialmente num país onde as capacidades de saúde são muito limitadas. Infelizmente, essas medidas estão a ter um impacto sobre a resposta ao sarampo, incluindo em termos de transporte de vacinas, equipas específicas e campanhas de vacinação. Cada novo atraso aumenta o risco da epidemia de sarampo se espalhar e matar mais crianças. Durante a epidemia de Ébola na África Ocidental, a interrupção das campanhas de vacinação levou ao ressurgimento do sarampo”, alerta Emmanuel Lampaert.

Além do sarampo e da Covid-19, são também uma preocupação na região a malária, diarreia e infeções respiratórias. Segundo Gédéon Mushadi, coordenador médico, as necessidades “são imensas”. “O fornecimento de medicamentos aos nossos centros de saúde continua difícil. O pouco que há disponível em cada estrutura não é suficiente para dar resposta às necessidades da população”, lamenta.

Emmanuel Lampaert mostra que naquele país africano a realidade é muito diferente da vivida nos países desenvolvidos. “Se os esforços estiverem concentrados apenas na Covid-19, outras grandes crises estão por vir. Reduzir as atividades de imunização, de prevenção da malária ou de apoio nutricional tornará a situação de saúde ainda mais difícil na RDC. Isso vai causar ainda mais mortes e não nos podemos calar”, afirma o coordenador de operações dos MSF na RDC.