Bernard Obiero - Diretor da Fátima Missionária

Quando é que voltamos à normalidade? Muito se tem dito e escrito sobre o regresso à normalidade, e muitos esperam, com bastante ansiedade, um grande regresso à vida normal. Alguns já organizam as viagens e festas, outros pensam voltar logo a encher os estádios, centros comerciais, cinemas, discotecas, praias, e muitas outras iniciativas que ficaram suspensas.

O regresso à normalidade não será imediato. Vai levar algum tempo. Os cientistas e investigadores já nos disseram que a vacina do vírus ainda não está garantida. E os economistas já previram uma quebra acentuada de três por cento na economia global, e que o desemprego deverá disparar este ano. Todos aconselham que tomemos todas as medidas para reduzir o contágio. Os governos deverão reforçar os gastos com a saúde e aumentar os apoios às famílias e às empresas. As próprias famílias e instituições terão que reorganizar os seus planos, evitando aqueles que não são essenciais neste momento. A pandemia tem tido impacto em todos os sectores e em todas as dimensões, e não será tudo resolvido de um dia para o outro, nem de um mês para o outro. Temos que pensar de forma diferente, inventar novas maneiras de manter as nossas relações familiares e comunitárias, e fazer novas escolhas.

Estamos numa altura em que muitos países estão focados em como reabrir as suas economias. Alguns países com economias mais frágeis são obrigados a quebrar as normas de confinamento mais cedo, mas, não podemos esquecer daquilo que proferem os técnicos e as várias direções de saúde. O diretor dos Centros de Controlo e Prevenção de Doença (CDC) dos EUA, Robert Redfield, fez um alerta para os EUA e a todos. “Existe a possibilidade de que o ataque do vírus à nossa nação no próximo inverno seja realmente mais difícil do que aquele pelo qual acabamos de passar”, disse o diretor do CDC. “Nós vamos ter a epidemia de gripe e a epidemia de coronavírus ao mesmo tempo,” acrescentou Redfield. Podem-se levantar as ordens de permanência e estados de emergências, mas várias medidas que temos tido, como o distanciamento social, as regras de higiene e os testes e isolamentos devem continuar. Devemos aprender a conviver com este “inimigo”, adaptando-nos à nova realidade, encontrando maneiras seguras para continuarmos com as nossas vidas.

O regresso à “normalidade” deve ser seguro e bem coordenado, para evitarmos a segunda vaga de coronavírus. Neste momento, podemos falar de regresso à normalidade “possível”, e não regresso a toda a normalidade. Que não tenhamos pressa de voltar à vida normal como se não tivesse acontecido nada. Seria um grande erro ouvir os líderes que sempre foram contra as regras de confinamento, desafiando a saúde pública e colocando a economia em primeiro lugar. De que serve a economia sem a vida, ou quando a saúde pública está em risco? Economia e saúde são indivisíveis. Portanto, temos que encontrar algum equilíbrio e resolver o que é mais urgente, neste caso, a pandemia. Devagar se vai ao longe, e quem depressa caminha se consome. A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu que Portugal está a reagir de forma correta em relação à covid-19, mas também deixou um alerta para os perigos do levantamento rápido do confinamento.

Temos que aprender com o passado para agirmos melhor. Portugal deve considerar o que tem feito melhor até agora, e observar atentamente o que acontece nos países que já levantaram as limitações. Que planeemos o desconfinamento segundo o nosso ritmo e a nossa realidade atual. As reaberturas devem ser sujeitas aos controlos, restrições e avaliações regulares pelas entidades responsáveis. As aberturas devem ser feitas gradualmente e com os cuidados sanitários. Será necessário tomar as decisões apropriadas e sem medo de fechar se as condições não forem favoráveis a certas aberturas.

“Este ainda não é momento para o país baixar a guarda em termos de medidas de confinamento e de distanciamento social. Até haver uma vacina, não vamos retomar a vida normal. Mesmo sem estado de emergência, não vamos poder viver como antes”, disse o primeiro-ministro António Costa. Enquanto aguardamos ardentemente o nosso regresso à normalidade, compreendamos a gravidade deste surto e recordamos que ainda é imprescindível o nosso bom senso e a nossa autodisciplina. Combater a pandemia ainda está longe de ser ultrapassado e o regresso à vida normal vai demorar mais tempo do que aquilo que muitos pensam.