A Survival Internacional, uma organização de defesa dos direitos dos povos indígenas, lançou um apelo aos líderes mundiais para que tomem medidas urgentes de proteção das terras indígenas, por forma a evitar que ocorram milhares de mortes relacionadas com o coronavírus nestas comunidades isoladas e mais vulneráveis às doenças.

No comunicado enviado às redações, a Survival destaca o caso particular do Brasil, onde “o Presidente Bolsonaro está ativamente incentivando missionários fundamentalistas a fazer contato com povos indígenas isolados, que não têm resistência para doenças de fora”, como é o caso dos yanomami, kawahiva, uru eu wau wau, munduruku e dos awá.

“Temos preocupação redobrada com os povos isolados, porque pode significar o extermínio dessa população. Nós percebemos que a pandemia é uma crise para a humanidade, mas sabemos que o Brasil não vai ser exterminado na sua totalidade. Já para nós, povos indígenas, representa uma ameaça real de extermínio”, assevera a líder indígena, Célia Xakriabá, citada pela organização.

Numa altura em que já existem pelo menos dois casos de indígenas com coronavírus no Brasil (uma jovem de 20 anos, no estado do Amazonas, e uma mulher de 87 anos, que faleceu no estado do Pará), muitas comunidades indígenas em todo o mundo estão a colocar-se em quarentena nas suas florestas, como o povo orang rimba da Indonésia e os povos adivasi na Índia. Algumas estão a fechar os seus territórios para não-indígenas durante a pandemia, pois os governos se mostraram incapazes ou pouco dispostos a proteger os territórios de invasões.

“Se as suas terras estiverem definitivamente livres de invasores, os povos indígenas isolados ficarão relativamente protegidos da pandemia. Mas muitos de seus territórios estão a ser roubados e invadidos para a extração ilegal de madeira, de minérios e para o agronegócio. Nos territórios que têm invasores, o coronavírus pode acabar com povos inteiros. É uma questão de vida e morte”, sublinha a investigadora e ativista da Survival, Sarah Shenker.