Joaquim Gonçalves tem uma coisa em comum com o Papa Francisco, figura que muito admira. Foram ordenados no mesmo ano e mês, e com poucos dias de diferença: Jorge Bergoglio a 13, e ele a 20 de dezembro de 1969. Um jubileu partilhado, que encerra ainda outra coincidência: a vocação de ambos nasceu no Sacramento da Confissão.

Joaquim sentiu-se tocado por uma confissão que fez na Consolata, aos 11 anos, em Fátima. No fim, leu um papel que o padre lhe deu sobre os passos da vocação. Aquilo mexeu com ele. E entrou no Seminário da Consolata, em 1954, quase aos 14 anos. Na Argentina, Bergoglio entra numa igreja, confessa-se a um sacerdote e aquela confissão desperta-lhe a vocação, – conta-se numa biografia.

Os primeiros tempos do Joaquim no seminário não foram fáceis. Era irrequieto. Um padre quis mandá-lo embora: “Amanhã fazes a mala e vais-te embora!”. Triste, foi para a cave rezar o terço. O padre Aldo Mongiano, encontrando-o ali, choroso, tranquilizou-o. “Eu não quero perder nem o pão, nem o vinho, nem o chouriço da tua família”, referindo-se aos produtos que a sua mãe lhes levava sempre que ia a Fátima. “Eu não te deixo ir embora!”, disse. Agora, afirma em tom de brincadeira: “‘pão, chouriço e vinho’ foi o preço da minha vocação!”. E até agradece aquele episódio: “passei a ser mais disciplinado”.

Recorda com saudade o tempo em que estudou Teologia, em Roma, onde experimentou os novos ventos do Concílio Vaticano II, que ali decorria. A preparação para o sacerdócio, já como diácono, decorreu na Alemanha, nas minas de carvão, em Essen (Baixa Renânia), onde trabalhou com muitos emigrantes clandestinos: libaneses, italianos, portugueses. “Foi uma experiência muito enriquecedora”, recorda. A ordenação, foi em Roma: “Queria estar próximo das pessoas com as quais trabalhei na pastoral: os presos, sem-abrigo, idosos e doentes”.

Após a ordenação, trabalhou alguns anos em Portugal, na animação missionária e vocacional (AMV), foi diretor desta revista e foi também Superior Regional. Mais tarde seguiu para o Brasil, onde passou mais de 40 anos da sua vida missionária. Ali, percorreu muitas realidades e missões diversas. Trabalhou na AMV, foi formador, fez pastoral paroquial, evangelização e promoção humana em algumas favelas; teve cargos de relevo na Consolata – foi Superior Regional – e em organismos nacionais ligados aos direitos humanos e à justiça e paz; mediou conflitos. Trabalhou na maior favela de São Paulo (Heliópólis, 80 mil habitantes), visitando casa por casa, e chegou mesmo a celebrar missa “em cima de um fogão”. Diz que conseguiu “unir profundamente a evangelização e a promoção humana”.

“Não imaginava na minha vida percorrer tantos lugares, apesar da minha saúde frágil. Nunca perdi a coragem! O meu sentimento é de ação de graças muito grande”, conta à FÁTIMA MISSIONÁRIA este missionário da Consolata nascido a 6 de fevereiro de 1941, numa aldeia (Outeiro da Ranha) do município de Pombal.
Agora que voltou a Portugal, diz precisar “de renascer” para se “readaptar às circunstâncias daqui”. Entretanto, continua a celebrar os 50 anos de sacerdócio: na sua terra, noutras comunidades e paróquias, e até já foi a Roma, onde concelebrou com o Papa Francisco, num abraço de cumplicidade jubilar e sacerdotal.

Texto: Albino Brás