Primeiro encontro Pan-amazónico em defesa dos direitos humanos dos povos indígenas em isolamento voluntário terminou com uma reivindicação: o direito destas comunidades à autodeterminação e ao livre exercício da sua identidade cultural
Primeiro encontro Pan-amazónico em defesa dos direitos humanos dos povos indígenas em isolamento voluntário terminou com uma reivindicação: o direito destas comunidades à autodeterminação e ao livre exercício da sua identidade cultural Os povos indígenas são bibliotecas vivas. São os guardiões, cuidadores e jardineiros da amazónia e do planeta. Cada vez que um povo indígena é exterminado e desaparece, um rosto de Tupana [Deus] morre. O cosmos, o planeta e toda a humanidade fica mais pobre. a definição é do líder indígena Bernardo Mawe, e serviu de inspiração aos representantes das várias instituições que, em abril, participaram no primeiro Encontro Pan-amazónico sobre direitos humanos dos povos indígenas em isolamento voluntário. Depois de um intenso diálogo sobre a situação de alta vulnerabilidade em que vivem os indígenas isolados em território pan-amazónico, sujeitos a constantes invasões, pressões, e violações dos seus direitos humanos, os participantes concluíram ser urgente reivindicar o direito destes povos à autodeterminação e à sua identidade cultural. Eles representam uma contribuição substancial à vida dos nossos países e da nossa região, à diversidade cultural e à relação harmoniosa que mantêm com o território. Os princípios da prevenção e vulnerabilidade são prioritários, pelo que se deve impedir qualquer iniciativa extrativa que possa pôr em risco a vida destes povos, evitar situações de conflito, proibir o contacto forçado e garantir a defesa dos direitos humanos dos povos indígenas em isolamento voluntário, refere o documento final do encontro, que se realizou no Brasil. a região pan-amazónica abrange o Brasil, Colômbia, Peru, Venezuela, Equador, Bolívia, as Guianas e o Suriname, e é a que tem mais comunidades indígenas isoladas – há cerca de 145 referências da presença destes grupos. Grande parte das comunidades encontra-se numa situação de permanente vulnerabilidade e ameaça por parte de mega-projetos extrativos e produtivos, que exploram os recursos naturais que se encontram dentro dos seus territórios ancestrais, em relação aos quais têm um enorme vínculo espiritual, material e humano, e dos quais dependem para sobreviver. Neste sentido, e além de pedirem aos governos que respeitem e apliquem os diversos tratados internacionais, os participantes exortaram toda a Igreja, em particular a que está presente na amazónia, a unir-se na proteção dos mais vulneráveis, a partir do acompanhamento integral e da compreensão desta realidade. a Igreja deve fazer uma forte opção pelos que são mais vulneráveis de um sistema injusto e desigual, concluíram os representantes da Rede Eclesial Pan-amazónica (REPaM), citando as palavras dirigidas pelo Papa Francisco aos movimentos populares, em julho de 2015, na Bolívia: a primeira tarefa é colocar a economia ao serviço dos povos: os seres humanos e a natureza não devem estar ao serviço do dinheiro. Digamos não a uma economia de exclusão e desigualdade, onde o dinheiro reina em vez de servir. Essa economia mata. Essa economia exclui. Essa economia destrói a mãe terra.