O mundo é cada vez mais uma aldeia”¦ e Deus envia cada um de nós a fazer a sua parte na construção de uma aldeia mais fraterna e justa, começando por quem nos é mais próximo
O mundo é cada vez mais uma aldeia”¦ e Deus envia cada um de nós a fazer a sua parte na construção de uma aldeia mais fraterna e justa, começando por quem nos é mais próximoHá tempos partilhava uma conversa repleta de memórias de um passado não muito distante com um nosso missionário, porque ambos estudámos teologia em Londres. Recordávamos, entre outras coisas, pessoas que nos marcaram durante esses anos memoráveis, em particular alguns dos nossos professores que eram também eles missionários e religiosos. Mais ainda, tinham a particularidade de ter feito experiências de missão noutros países. Um dos que mais me impressionou e contagiou com a sua experiência foi um velho missionário dos Padres Brancos, que tinha trabalhado na Índia.como sabeis, este é o segundo país mais populoso do mundo e é, na verdade, um pequeno continente de fortes contrastes culturais, sociais e religiosos, sendo o hinduísmo a religião predominante. Ele era um dos nossos professores de missiologia e dado que fazia frequentes referências à sua experiência pessoal e comunitária, eu ficava maravilhado e fascinado com o que nos contava, até porque sempre me senti fascinado pela Ásia. Felizmente, acabei por trabalhar no Extremo Oriente, mais propriamente na Coreia do Sul, podendo pôr em prática muitos dos conselhos que nos deu na altura. Das suas aulas recordo principalmente a paixão que nutria por Deus, pela missão e pelas pessoas com quem partilhava a sua vida e a sua fé. Esta paixão era transmitida na forma profundamente respeitosa como falava da cultura e tradições e, curiosamente, do quanto aprendeu sobre Deus através do contacto com pessoas de outras confissões religiosas, não só hindus como também muçulmanas. Para ele, ser missionário era uma das formas mais concretas e profundas de ser irmão da humanidade e filho do Deus criador. Esta paixão pela cultura e pelo povo a quem tinha sido enviado foi das melhores lições que partilhou connosco. Mais do que ensinar, ele partilhava a sua vida connosco, sendo genuíno no conteúdo e expressão do que tinha vivido com aquele povo. Este missionário tocou-me de forma muito especial, pois nunca fui apreciador dos que ensinam quase exclusivamente coisas que outros criaram ou pensaram, mas de quem fala de si, do que viveu, aprendeu e partilhou com outros, nomeadamente no campo da teologia e da missão, como na própria vida em geral. Por isso, a dimensão do sair ao encontro do outro – de que muito se fala desde que o Papa Francisco convidou a Igreja a sair, de forma mais explícita e concreta – é uma das principais e mais eficazes formas de viver a missão. Tanto que era precisamente isso que Jesus fazia: Ele podia ter montado uma empresa de milagres e de formação teórica sobre Deus, mas preferiu adotar o método do acolhimento, encontro, partilha e convite à conversão e ao amor, baseados no serviço ao próximo através do que somos e temos. Ia, por isso, ao encontro das pessoas no contexto das suas vidas, sem discriminações ou atos de intolerância, sem exigências a não ser uma só: a do amor a Deus e ao próximo, como a nós mesmos. a sua vida foi centrada na vontade do Pai e no dar vida a quem a tinha perdido, vida no sentido de dignidade, valor e beleza. Por isso aquele meu professor de missiologia, que deu parte da sua vida ao povo da Índia, ficará para sempre na minha memória e no meu coração, pois fez sempre tudo para viver a vida de forma apaixonada, uma vida plena de sentido, intensidade e partilha. E nós? Por quem vivemos a nossa vida? Com quem a vivemos e com que objetivo concreto a partilhamos com os outros? Somos todos convidados a fazer da nossa vida um dom para o próximo, seja ele meu familiar ou amigo, vizinho ou estrangeiro, conhecido ou desconhecido. O mundo é cada vez mais uma aldeia e Deus envia cada um de nós a fazer a sua parte na construção de uma aldeia mais fraterna e justa, começando por quem nos é mais próximo. Mas há também quem seja enviado para outras latitudes e culturas, porque Cristo é ainda desconhecido pela maior parte dos aldeões da nossa aldeia global.