Portugal é o país da OCDE onde mais cresceu o número de pessoas que não puderam ir ao médico por questões económicas, segundo o relatório «Health at Glance: Europa 2016», apresentado pela Comissão Europeia no passado dia 23
Portugal é o país da OCDE onde mais cresceu o número de pessoas que não puderam ir ao médico por questões económicas, segundo o relatório «Health at Glance: Europa 2016», apresentado pela Comissão Europeia no passado dia 23 a população da União Europeia (UE) vive cada vez mais, mas com menos saúde, segundo um relatório conjunto da OCDE e da Comissão Europeia publicado quarta-feira passada e que pede aos governos mais investimentos nos seus sistemas de saúde. Temos que investir na vida das pessoas e no capital humano, na educação e no desenvolvimento de competências, e também na saúde e na assistência, destacou o comissário europeu de Saúde, Vytenis andriukaitis, em conferência de imprensa. Não devemos ver esta despesa como inevitável, mas como um investimento no futuro, acrescentou.

O documento que apresenta o panorama da Saúde na Europa destaca que a proporção de pessoas mais pobres, que reportou ter ficado sem cuidados de saúde por razões financeiras, aumentou em vários países após a crise financeira de 2008. O relatório alerta para a baixa dos cuidados de saúde, particularmente entre os mais pobres, suscita preocupações porque pode resultar em piores condições de saúde e aumentar as desigualdades no acesso aos mesmos cuidados. Os autores do texto referem ainda que, com melhores políticas de saúde e medidas de prevenção da doença, podem salvar-se centenas de milhares de vidas e poupar-se muitos milhões de euros todos os anos na Europa.

O envelhecimento da população e o aumento das doenças crónicas – na UE há cerca de 50 milhões de pessoas com doenças crónicas, indica o relatório – fazem com que seja necessário que haja uma mudança no fornecimento de assistência médica, afirma a Comissão, baseando-se no relatório realizado com a OCDE. Por outro lado, o documento aponta também a importância de ter cuidados primários fortes para reduzir as desigualdades no acesso à Saúde e para abordar a evolução das necessidades de uma população europeia cada vez mais envelhecida.
a este propósito, o relatório revela que 27% dos europeus que recorreram às urgências dos hospitais fizeram-no porque os cuidados primários não estavam disponíveis. Em Portugal, apesar da aposta neste tipo de cuidados e de haver cada vez mais utentes com médico de família, cerca de 30% foram às urgências hospitalares por falta de resposta nos centros de saúde.

Os portugueses queixam-se de que não têm dinheiro para ir ao médico, uma necessidade essencial. a verdade é que um terço dos nossos compatriotas também dizem que não têm dinheiro para fazer uma vida digna, a constatação deste facto é do Relatório de Pagamentos Europeu do Consumidor, desenvolvido pela Intrum Justitia. Esta entidade afirma que 94% dos inquiridos consideram que é importante pagar sempre as contas dentro do prazo, 29% afirma que, neste momento, não tem dinheiro suficiente para ter uma vida digna. O estudo, feito a partir de dados recolhidos numa pesquisa realizada em simultâneo a 21317 cidadãos europeus de 21 países e que contou com a participação de 1010 portugueses, visou conhecer a situação e saúde financeira das famílias face ao atraso nos pagamentos. Ou seja, quando os portugueses não ganham o suficiente para fazer face às necessidades mais prementes, optam por cortar mesmo em coisas tão essenciais como a saúde, o que é deveras tenebroso.
Perante a situação descrita, e sabendo que corresponde à verdade, sentimo-nos impotentes para sugerir o que quer que seja, a não ser lembrar a quem de direito que os portugueses são pessoas e não apenas eleitores dos políticos.