Missionário interpreta a falta de vocações na Europa, e até no Brasil, como uma consequência natural da forma como a sociedade atual está organizada, em «famílias muito pequenas»
Missionário interpreta a falta de vocações na Europa, e até no Brasil, como uma consequência natural da forma como a sociedade atual está organizada, em «famílias muito pequenas»O desejo de ser padre já vinha da adolescência. Mas foi uma ida à Guiné-Bissau, como militar do exército português, que ajudou Mário Silva a cimentar a convicção de que o seu futuro passava pela pastoral missionária. Hoje, a trabalhar no Brasil, divide o seu tempo entre a formação, o acompanhamento espiritual dos jovens e as visitas aos doentes. No calor da juventude, e já com a ideia de se tornar sacerdote a fermentar no pensamento, Mário Alves da Silva chegou a vacilar entre fugir para França ou alegar objeção de consciência e entrar de vez no seminário, para evitar o serviço militar obrigatório. Optou por cumprir o dever cívico. E, reconhece agora, aos 73 anos, que em boa hora o fez, pois o contacto com as carências sociais do povo guineense serviu para o ajudar a reforçara sua vocação. Eu estava integrado num pelotão militar que fazia muitas visitas às aldeias, para ajudar na construção de casas, no abastecimento de água e na distribuição de medicamentos. E o que fui encontrando era uma grande necessidade de apoio humano. Por isso, meses depois de regressar a Portugal, entrei no Seminário dos Missionários da Consolata, que já conhecia. as pessoas, inclusive a minha família, pensavam que tinha voltado pirado, mas não, era mesmo isso que eu queria para o meu futuro, recorda o missionário. Mário Silva é natural de Vila de Rei, diocese de Portalegre-Castelo Branco.com a ida à tropa, acabou por só iniciar os estudos teológicos aos 24 anos. Quando foi ordenado, imaginava-se a partir para uma das muitas missões no estrangeiro, mas os superiores quiseram aproveitar as suas qualidades no campo da formação e enviaram-no para o Centro Missionário de Águas Santas, na Maia. Daí foi para o seminário de abrantes e só depois partiu para o Brasil, onde, entre outras tarefas formativas, ajudou a abrir o Seminário Teológico de São Paulo. Pelo meio ainda passou sete anos em Portugal, no Seminário da Consolata, em Fátima, tendo retornado depois à Terra de Vera Cruz, para dar continuidade ao trabalho pastoral, agora em Brasília.com tantos anos ligado à formação, o missionário interpreta a falta de vocações na Europa, e até no Brasil, como uma consequência natural da forma como a sociedade atual está organizada, em famílias muito pequenas, o que torna mais difícil os pais orientarem os filhos para a vertente espiritual. acho que vou dizer uma loucura Mas se a Igreja abrisse um serviço temporário de sacerdócio, por três ou quatro anos, penso que teríamos mais vocações, sugere Mário Silva, explicando, que se tem cruzado com jovens com uma grande dimensão espiritual e religiosa, aos quais apetece convidar à vocação, só que esbarra quase sempre no facto da maioria deles não estar na disposição de assumir um compromisso sério com o sacerdócio. Perante este cenário, o sacerdote considera que o futuro da Igreja Católica passa pelo reforço do papel dos leigos. a não ser que haja algum milagre, a Igreja vai ter que trabalhar ainda mais a dimensão laical e promover a ordenação de diáconos permanentes. Nunca é como o padre, mas ajuda bastante, sobretudo nas zonas onde há mais escassez de sacerdotes, conclui o missionário português.