Creio que uma das lições mais bonitas que Deus nos dá é o da beleza, valor e significado que podemos encontrar por detrás de cada manifestação cultural, obras da sua criatividade
Creio que uma das lições mais bonitas que Deus nos dá é o da beleza, valor e significado que podemos encontrar por detrás de cada manifestação cultural, obras da sua criatividadeatualmente encontro-me em Portugal e, como tal, tive o privilégio de visitar Moçambique no verão passado, como já vos referi na crónica do mês anterior. Dado ter sido de facto uma experiência marcante, seja como ser humano, seja como missionário da Consolata, quero partilhar mais um pouco sobre a mesma, mais precisamente sobre um missionário que conheci pessoalmente e de quem tinha ouvido falar muito, até porque é uma figura destacada no Instituto Missionário da Consolata (IMC). Estou a referir-me ao padre Giuseppe Frizzi, conhecido sobretudo pelo extraordinário trabalho de investigação cultural, linguística e catequética. Falo dos seus estudos sobre a cultura Macua e a língua Xirima que se encontram em vários livros por ele publicados. Para além de todo este tesouro cultural, linguístico e etnológico, marcou-me imenso a capacidade organizativa das cerca de 73 comunidades que estão sob a sua orientação e, atualmente, também do padre Carlo Biella, ambos responsáveis pela paróquia de São Lucas, em Maúa. Tive o prazer de participar em dois conselhos pastorais, um deles com responsáveis e representantes de quase todas estas comunidades, a outra ligada à comunidade de Maiaca.como missionário que trabalhou na Ásia, fiquei a conhecer um pouco mais do IMC do ponto de vista africano, até porque a África foi a primeira razão pela qual quis ser missionário. a Ásia foi um amor que apareceu mais tarde, antes de terminar os estudos teológicos, mas o bichinho pela África nunca desapareceu. Bem pelo contrário. espero um dia poder trabalhar lá. Voltando ao padre Frizzi: o que mais me marcou nele foi a grande paixão, respeito, carinho e dedicação que tem por aquele povo e a sua cultura. Creio que é um dos missionários que encarna muito bem o espírito de allamano, fundador do IMC, o qual sempre pediu muito respeito, amor e dedicação pelos povos aos quais os seus filhos e filhas eram enviados. Ele é um verdadeiro cidadão do mundo, com alma moçambicana e um coração que palpita fortemente segundo os ritmos dos sons, cheiros e sabores da cultura Macua. a sua atitude perante este povo ensinou-me ainda mais a saber valorizar cada cultura diferente da nossa e a descobrir o nosso Deus que se revela e se recria em cada cultura e tradição humana. Creio que uma das lições mais bonitas que Deus nos dá é o da beleza, valor e significado que podemos encontrar por detrás de cada manifestação cultural, obras da sua criatividade. E o anúncio do Evangelho, ou seja, a partilha que os missionários fazem por esse mundo fora faz parte desta forma de autorrevelação de Deus. Dedicar a vida à missão é uma forma de colaborar nesta contínua criação divina, de descobrir a alma do ser humano na sua diversidade e capacidade de ser reflexo do amor imenso e profundo que Deus tem pelo ser humano de cada cultura e nação. Para os jovens que sentem uma certa inquietação e um desejo de crescer na sua identidade como cidadãos do mundo, a vocação missionária oferece um vasto leque de possibilidades de verem realizadas estas expectativas. Cristo viveu como membro de uma cultura mas foi muito mais além dos limites da mesma, acolhendo a todos, independentemente da sua raça, sexo, cultura ou religião, chegando ao ponto de declarar que jamais tinha encontrado em Israel alguém com tanta fé quando recebeu um pedido por parte de um centurião romano (Mateus 8,10-13). E é o amor que nos define como cidadãos do mundo, sendo a vocação missionária uma forma direta e ativa de o viver e partilhar.