Portugueses com mais dificuldades económicas vão poder levantar nas farmácias os medicamentos de que necessitam, mesmo que não tenham dinheiro, já a partir do próximo ano. Promete a Dignitude, nova IPSS apresentada em Coimbra
Portugueses com mais dificuldades económicas vão poder levantar nas farmácias os medicamentos de que necessitam, mesmo que não tenham dinheiro, já a partir do próximo ano. Promete a Dignitude, nova IPSS apresentada em CoimbraNo emaranhado da sociedade egoísta em que vivemos surgem, por vezes, algumas notícias que são estrelas de esperança e que revelam uma consciência saudável das pessoas, assim como das instituições. a associação Dignitude (IPSS), fundada a semana passada, é composta pela associação Nacional de Farmácias (aNF), associação Portuguesa da Industria Farmacêutica (apifarma), Cáritas e Plataforma Saúde em Diálogo. a cerimónia de apresentação, que decorreu quarta-feira passada, na Delegação Centro da aNF, em Coimbra, contou com a presença de antónio arnaut, antónio Ramalho Eanes, Carvalho Guerra, Maria de Belém Roseira e Odette Ferreira, embaixadores da associação Dignitude. Na ocasião estiveram ainda presentes os secretários de Estado da Solidariedade, agostinho Branquinho, e da Saúde, Eurico Castro Alves.

Trata-se de um fundo permanente destinado a comparticipar a aquisição de medicamentos por parte de cidadãos com necessidades económicas, em toda a rede de farmácias, explica em comunicado a aNaF. O montante a atribuir, de maneira a reduzir ao máximo a parte da fatura que não é comparticipada pelo Estado, vai depender das contribuições para o Fundo. Não só contribuições diretas, mas também as resultantes de um processo de angariação dirigido a cidadãos, empresas, indústria farmacêutica, instituições de solidariedade e agências governamentais.
Os cidadãos podem ajudar com donativos ou através do sistema de arredonda, ou seja, arredondando o valor da fatura a pagar na farmácia, exemplificou o secretário-geral da aNF, Nuno Flora. O apoio na compra de medicamentos vai ser dado em função do rendimento e das doenças dos cidadãos.

atualmente o Estado comparticipa os medicamentos (suportando uma parte do preço) na mesma proporção para todos os cidadãos, independentemente de estes ganharem muito ou pouco dinheiro. O que se pretende com este projeto é ajudar a corrigir esta injustiça, enquanto não é revista a forma de comparticipação estatal, como é reclamado, de maneira a que o apoio passe a ser dado em função do rendimento e das doenças dos cidadãos.
Dói-me o coração quando vou à farmácia e vejo pessoas a perguntar quanto custam os medicamentos. Se (este programa) funcionar bem, isto deixará de acontecer. Isto não é caridade, é solidariedade, esclarece antónio arnaut, para quem esta é uma ação que o próprio Estado não está em condições de fazer. Seria bom que o Estado social pudesse fazer isto, mas o Estado não pode fazer tudo, refere o pai do SNS e antigo ministro dos assuntos Sociais em declarações ao Público.

Este é um projeto de responsabilidade social, não um sistema de comparticipação nacional, mas sim de acesso para pessoas muito desfavorecidas, explicou ao Público o secretário-geral da aNF, Nuno Flora. Os beneficiários terão acesso a estas comparticipações sem serem identificados nas farmácias.como é que isto vai ser operacionalizado? a ideia é a de que baste apresentar o cartão do cidadão, mas será necessário criar uma base de dados que poderá ser gerida pela Segurança Social que já tem o grupo carenciado identificado (pessoas que recebem o rendimento social de inserção ou o complemento solidário de idosos).
Presentemente os cidadãos em dificuldades apenas podem recorrer aos bancos farmacêuticos. Sem conseguir precisar quantas pessoas deixam de comprar medicamentos por não terem dinheiro, Nuno Flora adiantava que cerca de 20 a 25% das prescrições médicas não são aviadas nas farmácias, por várias razões.

a crise está a fazer com que os portugueses estejam a contribuir menos para as causas sociais. a Cáritas, por exemplo, revelou que teve uma quebra de receitas de 50%. Perante esta realidade as instituições sentem enorme dificuldade em responder ao crescente número de pessoas que pedem ajuda para comer e comprar medicamentos, pelo que é de saudar a iniciativa destas entidades para atenuar as tremendas dificuldades dos mais carenciados.
Também cada um de nós tem a obrigação de colaborar, da forma que nos parecer mais adequada, com aqueles cuja debilidade física e económica é patente e que possivelmente estão mesmo ao nosso lado.