a Comunidade Europeia nasceu de um sonho: a união entre os povos através da solidariedade e onde a circulação de pessoas e bens fosse uma realidade. Hoje a solidariedade europeia está em causa e constroem-se muros em vez de abrir portas
a Comunidade Europeia nasceu de um sonho: a união entre os povos através da solidariedade e onde a circulação de pessoas e bens fosse uma realidade. Hoje a solidariedade europeia está em causa e constroem-se muros em vez de abrir portas a onda de refugiados sírios em fuga da guerra civil que assolou o seu país já está a acontecer desde 2011 e segundo estimativas do aCNUR (alto Comissariado para os Refugiados, organismo dependente da ONU) o número já ultrapassa os quatro milhões. a maioria refugiou-se em países vizinhos, como a Turquia, onde residem atualmente perto de dois milhões, lê-se no relatório do aCNUR, divulgado em julho passado. Ou seja, o conflito sírio gerou a maior crise de refugiados em quase um quarto de século, segundo refere o aCNUR. É a maior população de refugiados de um só conflito numa geração. É uma população que necessita do apoio de mundo mas em vez disso vive em condições terríveis e afunda-se cada vez mais na pobreza, disse o alto Comissário para os Refugiados, antónio Guterres.

Quem não se lembra da grande quantidade de refugiados que em 2013 rumou a Lampedusa, em Itália, e que tem continuado até hoje? Portanto estamos perante um problema que não é novo na Europa e já nesse ano o Governo italiano acusava Bruxelas de não apoiar as autoridades que os recebiam. Pelos vistos os países europeus traçaram muito tarde a estratégia para acolhimento, nem sequer previram atempadamente o enorme afluxo que este ano está a acontecer. Perante um problema tão grave os países europeus estão divididos, uns abrem as portas, mas outros preferem fazer muros para impedir a entrada de refugiados, mesmo que estes estejam apenas de passagem, a caminho de outro país.

O egoísmo das pessoas, e dos países, é confrangedor. Todos sabemos que a Europa também tem dificuldades de vária ordem, mesmo económicas, mas esta gente que procura uma vida melhor nada tem e a solidariedade não tem cor nem deve descriminar raça. a Europa não estava preparada para acolher tanta gente, mas os seus responsáveis não tiveram dificuldade em prever que isto iria acontecer, veja-se o caso de Lampedusa. atualmente não há uma estratégia consertada da Comunidade Europeia para acudir a este problema de milhares de refugiados que entram todos os dias, de todos os lados. E agora já não são penas apenas sírios, mas também de outros países.

O papa Francisco na recente entrevista concedida a aura Miguel, da Rádio Renascença, afirmou que a crise dos refugiados na Europa é a ponta do icebergue, criada por um sistema sócioeconómico mau e injusto. Francisco considerou que o problema está no foco da sociedade que deixou de ser a pessoa e passou a ser o dinheiro. Estes refugiados fogem da guerra, da fome, mas essa é a ponta do icebergue. Por baixo está a causa e a causa é um sistema sócioeconómico mau e injusto, porque dentro de um sistema económico, dentro de tudo, dentro do mundo – falando do problema ecológico -, dentro da sociedade socioeconómica, dentro da política, o centro tem de ser sempre a pessoa, disse o Papa, lembrando que 17% da população mundial detém 80% das riquezas.
O Papa afirma que é necessário combater as causas que levam os refugiados a deixar os seus países devastados pela guerra: Temos que tratar as causas, onde há fome temos que criar fontes de trabalho, onde há guerra é preciso trabalhar pela paz. Hoje em dia, o mundo está em guerra contra si mesmo, uma guerra em folhetim, aos pedaços, que está a destruir a Terra, a nossa casa comum.

Partilhamos da opinião do Papa quando diz: a Europa tem uma cultura excecional, são séculos de cultura e isso dá bem-estar intelectual. a Europa não morreu, está meio avozinhae é tempo de voltar a ser mãe (… ) de recuperar a sua identidade. Para renovar a identidade europeia, o Papa destacou o papel dos jovens e o trabalho necessário com os jovens desocupados. Francisco considerou ainda que a atual civilização é narcisista, e isso combate-se com educação, com a educação dos direitos e dos deveres na sociedade.

É interessante a visão do Sumo Pontífice quando afirma que quando um país não tem filhos, vêm os emigrantes para o preencher. O não querer ter filhos, em parte, – e isto é uma interpretação minha, não sei se está correta – é um pouco o resultado da cultura do bem-estar, não é? Eu ouvi, dentro da minha própria família, cá, há uns anos, por parte dos meus primos italianos dizer: não, crianças, não; preferimos viajar nas férias, ou comprar uma villa, ou isto ou aquilo… E os idosos vão ficando sozinhos.
O problema da natalidade em Portugal é apenas mais um (importantíssimo) mas que terá que ser tratado segundo a nossa realidade, mas os migrantes também poderão ser bem-vindos.

Eduardo Santos