Com a saída da troica o tema sobre a pobreza quase caiu no esquecimento. agora os políticos e a comunicação social falam em crescimento, menor número de desempregados, baixa de IRS, mais crédito para comprar casas, só coisas boas
Com a saída da troica o tema sobre a pobreza quase caiu no esquecimento. agora os políticos e a comunicação social falam em crescimento, menor número de desempregados, baixa de IRS, mais crédito para comprar casas, só coisas boasÉ verdade que o período eleitoral, em que já entramos, para as legislativas e, em seguida, virão as presidenciais, estará a contribuir para o olvidar da pobreza que se acentuou com a crise económica em que mergulhamos.
ainda recentemente Carlos Farinha Rodrigues, professor do ISEG e membro da direção do Institute of Public Policy Thomas Jefferson-Correia da Serra, afirmou ao Expresso que os dados sobre a pobreza, distribuição de rendimentos, desigualdades e prestações sociais expressam de forma muito clara as principais consequências sociais das políticas desenvolvidas na presente legislatura: a quebra dos rendimentos das famílias, o refluxo das políticas sociais e em particular daquelas dirigidas aos setores mais vulneráveis da população, o agravamento da pobreza e das desigualdades.
O professor do ISEG lembrou ainda que as políticas de austeridade seguidas, a pretexto do acordo assinado com os credores internacionais, mas indo muito além do que esses acordos estabeleciam, traduziram-se num recuo dos principais indicadores sociais. Entre 2009 (último ano pré crise e pré medidas de austeridade) e 2013 (último ano de que dispomos de dados do INE), a taxa de pobreza aumentou de 17,9% para 19,5%. Este valor reconduz-nos aos níveis de pobreza registados no início do século. De facto, é necessário recuar a 2003 para encontrar um nível de pobreza superior ao verificado em 2013″, refere.
Olhando para a taxa de pobreza, há outro número a salientar, diz o economista. Uma das consequências mais dramáticas da crise económica e das políticas seguidas nos anos recentes foi o forte agravamento do número de crianças e jovens em situação de pobreza: a taxa de pobreza das crianças e dos jovens aumentou, entre 2009 e 2013, mais de três pontos percentuais passando de 22,4% para 25,6%.
Para o aumento da pobreza e simultaneamente do agravamento das condições de vida das famílias mais pobres foram determinantes as alterações introduzidas nas transferências sociais, em particular no Rendimento Social de Inserção, Complemento Solidário para Idosos e no abono de Família, segundo o economista e investigador na área da pobreza e das desigualdades.
O risco de pobreza afeta cerca de dois milhões de portugueses, de acordo com os dados do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento divulgados em 2013 pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Por outro lado, Eugénio da Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa, alerta que é preciso assegurar de uma vez por todas e sem qualquer preconceito um rendimento mínimo para todas as pessoas que lhes permita viver com dignidade e reduzir as desigualdades, criando emprego a médio prazo.
apela para que a riqueza gerada tem de ser distribuída com justiça e têm de ser criadas condições para um combate eficaz à evasão fiscal e para que haja taxas justas e equilibradas para todos os setores da sociedade e um equilíbrio justo na repartição dos sacrifícios. É preciso tomar conta de toda a população portuguesa, mas dar especial atenção à proteção dos grupos mais vulneráveis, disse o presidente da Cáritas.
É fundamental contrariar a ideia errada de que o pior já passou, como os políticos que governam este país afirmam. Esta onda apenas interessa para ganhar eleições, mas está longe de ser verdadeira, não só pelos números reais, como pelos exemplos do dia a dia. Se dúvidas houvesse, bastaria olhar para o número de utentes que mesmo trabalhando pedem ajuda, sobretudo alimentos, a instituições de solidariedade social, e que passou de 17% em 2010 para 31% em 2015, quase o dobro. É obrigação de todos nós continuar a manter o tema da pobreza em alerta geral, pois a organização política e o crescimento económico deste país não nos permitem estar otimistas.