O mundo precisa de juventude positiva e construtivamente inquieta, disposta à partilha e à mudança que promove a dignidade humana a todos os níveis, não só económico. O mundo precisa de jovens dispostos a pôr mãos à obra
O mundo precisa de juventude positiva e construtivamente inquieta, disposta à partilha e à mudança que promove a dignidade humana a todos os níveis, não só económico. O mundo precisa de jovens dispostos a pôr mãos à obraFalar de missão na primeira pessoa é sempre um prazer: após 17 anos de Coreia do Sul, posso também fazê-lo aqui com vocês. Regressar à pátria depois de tantos anos tem sido um desafio interessante, porque na verdade toca-me aprender de novo a ser português para poder desenvolver a minha nova missão. Neste processo de reaprendizagem, há elementos que facilmente identifico como sendo comuns a todos os povos e culturas, nomeadamente a procura da felicidade e da valorização da identidade pessoal. andamos todos à procura da felicidade, a qual tem, obviamente, traços culturais. Foi precisamente este aspeto, entre outros, que constituiu para mim um desafio e uma experiência muito preciosa. Desde miúdo que me sentia fascinado por outros povos e culturas e, como tal, entre os meus sonhos de infância estavam o ser guia turístico e fotógrafo free-lancer, para além de jogador de futebol. Tudo para poder conhecer o mundo. até que um dia dois missionários da Consolata (um sacerdote e uma irmã) visitaram a minha escola e falaram da vocação missionária: a ideia ficou impressa no coração e aceitei o desafio de visitar a comunidade de Águas Santas, na Maia, a qual eu já conhecia pelo facto da minha mãe ser benfeitora do Instituto Missionário da Consolata há muitos anos. Entrei no seminário e assim teve início esta aventura que já me levou à Ásia. Viver e trabalhar na Coreia do Sul foi um autêntico nascer de novo porque pude não só conhecer uma cultura muito diferente, como reavaliar a forma de entender e viver a minha relação com Deus e com os outros. Senti-me sempre como uma criança que aos poucos aprende a ser membro da sua família e nação. Num mundo onde cada vez mais os livros e enciclopédias veem aumentar o pó em cima deles, porque muitas vezes o conhecimento se procura teclando num computador a palavra Google, ou onde muitas relações se estabelecem sem conhecimento pessoal, o estar com pessoas à volta de uma mesa ou de um altar e ouvir as suas histórias, partilhando também as minhas, histórias marcadas pela cultura e pela fé, é uma experiência profundamente marcante. Parte da minha alma é agora coreana e foi nesta partilha que descobri Deus de outra perspetiva, este Deus que me ama e me desafia à partilha onde quer que eu esteja e com quem quer que eu esteja. Viver a vida, para mim, só tem sentido quando me alimento Dele e do próximo, partilhando com eles o que sou e o que tenho. O mundo precisa de juventude positiva e construtivamente inquieta, disposta à partilha e à mudança que promove a dignidade humana a todos os níveis, não só económico; o mundo precisa de jovens dispostos a pôr mãos à obra e a dar forma e sentido aos seus sonhos e projetos. Da nossa parte, estes sonhos e projetos devem estar profundamente enraizados no Evangelho. Poder realizá-los é uma graça imensa; poder ajudar outros a realizar os seus é uma missão que devemos abraçar, dando continuidade à missão de Jesus. E uma forma de ser discípulo é precisamente esta da vocação missionária. É verdade que não é fácil, mas sabemos que na vida as coisas que mais satisfação nos dão são as que custam alcançar. São elas também que nos ajudam a formar o nosso carácter, a crescer a todos os níveis e a ser construtores de um futuro que acontece hoje mesmo.