O que normalmente denominamos por guerra na Síria é, na realidade, um conjunto de conflitos num território espartilhado por interesses de potências internacionais, regionais e locais, que tornam muito incerta a sua resolução, a curto e médio prazo
O que normalmente denominamos por guerra na Síria é, na realidade, um conjunto de conflitos num território espartilhado por interesses de potências internacionais, regionais e locais, que tornam muito incerta a sua resolução, a curto e médio prazoapós quatro anos de guerra, a Síria parece cada vez mais longe de uma solução que ponha termo ao conflito. Os prognósticos que anunciavam a chegada dos ventos de mudança da Primavera Árabe revelaram-se errados e o país enfrenta hoje uma situação de destruição sem precedentes e com um fim pouco previsível. Os números oficiais acerca das consequências do conflito são impressionantes. Diminuição em 15 por cento da população; 220 mil mortos e 840 mil feridos; quatro milhões de refugiados; 6,8 milhões de desalojados; queda abrupta da esperança média de vida de 76 para 56 anos; quatro quintos da população em situação de pobreza e, entre esta, 30 por cento a viver em condições de extrema pobreza. Múltiplas guerrasMas o que tornou tão durável e complexa a guerra na Síria? Uma análise do jornal Le Monde fala-nos, a este propósito, não de uma mas de oito guerras que se alimentam umas das outras. Normalmente, os meios de comunicação social apenas falam de três delas: da que esteve na origem do conflito e põe em confronto o exército de Bashar al-assad e as forças rebeldes; a que opõe os rebeldes ao Estado Islâmico; e, finalmente, a luta entre as forças do Presidente sírio e o Estado Islâmico. Nestes três conflitos, estão implicados os Estados Unidos da américa (EUa), a arábia Saudita, o Qatar e a Turquia, em apoio às forças rebeldes, e a Rússia, o Irão, o Hezbollah, no Líbano, as milícias chiitas iraquianas e o exército sírio, do lado de Bashar al-assad. No entanto, um conjunto de outros conflitos misturam-se com estes, tornando a guerra em território sírio mais complexa: o confronto entre as milícias curdas e o Estado Islâmico, na região do Curdistão, fortemente bombardeada pela aviação norte-americana; a guerra entre o Estado Islâmico e os movimentos afetos à al-Qaeda; entre o Hezebollah e os movimentos jihadistas da al-Qaeda e do Estado Islâmico na fonteira entre o Líbano e a Síria; o conflito entre as forças do Estado Islâmico e várias tribos da região leste do país; enfim, a guerra entre grupos rebeldes e a Frente al-Nosra, afeta à al-Qaeda, em disputa pelo controlo da região oeste do país. um fim incertoEm termos internacionais, o conflito beneficiou do desentendimento entre as principais superpotências com um poder importante nas Nações Unidas, em particular no Conselho de Segurança. a Rússia, empenhada em não deixar cair o regime de Damasco, é secundada pela China, cuja posição parece oscilar entre a indiferença e o apoio a Bashar al-assad. Os EUa, que chegaram a prever uma intervenção direta no conflito para depor o Presidente sírio, encontra-se sem soluções que garantam uma alternativa política num cenário pós-queda de Bashar al-assad, e está longe de poder contar com a Europa que procura manter-se distante da guerra, privilegiando a sua intervenção no domínio de uma insuficiente ajuda humanitária. O que normalmente denominamos por guerra na Síria é, pois, na realidade, um conjunto de conflitos num território espartilhado por interesses de potências internacionais, regionais e locais, que tornam muito incerta a sua resolução, a curto e médio prazo.