Há dois anos que os missionários e missionárias da Consolata estão na Mongólia. Corrado Benigni, jornalista italiano, que viveu uns meses com a comunidade, escreve sobre a realidade desta missão.
Há dois anos que os missionários e missionárias da Consolata estão na Mongólia. Corrado Benigni, jornalista italiano, que viveu uns meses com a comunidade, escreve sobre a realidade desta missão. Viajando pelas desérticas estepes da Mongólia saltam à vista os montes de pedras, lenha e outros materiais (entre estes também podemos encontrar algumas cabeças de alce ou yak, garrafas de vodka e lenços de seda), que voam com as suas cores ao sabor do vento, à distância nos cimos das colinas e montanhas. São os ovoo, assim se chamam na língua mongol essas construções, que na tradição xamanista – ainda com fortes raízes nestas partes – representam uma espécie de oferta aos deuses.
Este é o sinal mais visível de uma tradição e sensibilidade espiritual, que desde a antiguidade distinguiu a Mongólia. Hoje, poucos países orientais vivem um fermento religioso e espiritual tão vivaz e complexo como esta terra.
Visitando a capital Ulaan Baatar, onde se concentra mais de um terço da totalidade da população, fica-se impressionado pela quantidade de templos budistas presentes. ao seu lado florescem lugares de culto menos relevantes, sobretudo protestantes. São numerosas as seitas religiosas, dos Mórmones aos seguidores de Moon, da igreja da paz aos carismáticos. Realidades que, depois da queda do regime soviético, no início dos anos noventa, encontraram na Mongólia um terreno fértil de pregação.
O mais impressionante é pensar que a Mongólia foi um estado satélite da União Soviética durante setenta anos. apenas há uma dezena de anos, em homenagem à ideologia marxista-leninista, foi proibida toda a prática religiosa pública, os mosteiros foram arrasados e milhares de monges budistas foram mortos e perseguidos.
No entanto, o povo não parece ter perdido o sentido do religioso e uma profunda sensibilidade espiritual. Esta tem raízes profundas na história deste país: na corte de Gengis Khan, em 1200, estavam representadas todas as filosofias e religiões do seu reino, entre outras o cristianismo (nessa altura frades franciscanos saíam da Europa para levar à antiga capital da Mongólia, Karakorum, a mensagem do evangelho, livres de qualquer obstáculo da parte das autoridades locais).
Falando com alguns mongóis de Ulaan Baatar, pareceu-nos sentir uma grande sede de espiritualidade, um desejo do religioso, que nasce, quem sabe, do vazio que o regime soviético deixou. Depois dos anos da perseguição, diz-se que muitos mongóis esperam a vinda de um grande personagem, capaz de fazer mexer o mundo com verdade e sabedoria: um homem que possa abrir uma nova era.
Quando cheguei à Mongólia, há dois anos, encontrei neste país um grande despertar espiritual. É um povo que há séculos está impregnado de religião, seja pela presença do budismo, seja pela própria cultura xamanista ainda muito forte entre eles. Devido à repressão russa, durante anos não houve possibilidade de formação religiosa e agora sentem, como exigência, o desejo do regresso à própria religião, o budismo, mas sentem também o de abrir-se a outra fé. É um população com uma forte predisposição à dimensão espiritual, explica o padre Jorge Marengo, sacerdote missionário da Consolata, natural de Turim, que forma comunidade com o padre Ernesto Viscardi e as irmãs Lúcia Bortolomasi, Sandra Garay e Giovanna Villa, também da Consolata. Há dois anos que estão presentes na Mongólia para fundar uma missão católica.
É uma resposta ao grande desejo de João Paulo II, que sempre olhou para o continente asiático como o lugar ideal para dar início ao processo de diálogo entre as religiões, um dos pontos fortes do seu pontificado. Wojtyla muitas vezes mostrou ter muito presentes no seu coração as pequenas comunidades católicas dispersas, como esta da Mongólia, actualmente constituída por menos de 300 fiéis. João Paulo II pensou visitar a Mongólia, mas, quando todo estava pronto para a viagem, foi obrigado a renunciar a esta viagem.
a liberdade religiosa, reconquistada nos anos noventa, permitiu que muitas outras igrejas, sobretudos dos Estados Unidos e da Coreia do Sul, chegassem a este país, e penetrassem no seu tecido social, nem sempre respeitando os costumes e a cultura desta terra, influenciada principalmente pelo budismo. Muitas vezes aproveitando-se do entusiasmo e da fragilidade próprios de uma liberdade reencontrada.
a classe intelectual mongol e as autoridades budistas, apesar de manterem uma atitude de grande tolerância, temem hoje uma verdadeira invasão destas igrejas e seitas, que muitas vezes se começam a instalar com apenas duas pessoas, conseguindo depois alargar-se lentamente e ter muitos seguidores, graças também à grande quantidade de dinheiro de que dispõem.
Infelizmente as pessoas nem sempre sabem distinguir entre as várias igrejas cristãs e seitas que nestes dez anos floresceram, explica o padre Ernesto Viscardi, responsável da comunidade religiosa dos missionários da Consolata na Mongólia. a igreja católica orienta-se por parâmetros diferentes: procuramos o contacto com as autoridades, pedindo as autorizações e explicando quem somos e qual a nossa missão. Mantemos sempre um grande respeito pela cultura e costumes deste povo. Outros movimentos religiosos, pelo contrário, são mais agressivos. Chegam, constroem o seu lugar de culto, fazem proselitismo sem respeitar a realidade religiosa local, e está feita a igreja. Este é o aspecto que as autoridades políticas e religiosas, além da classe intelectual, começam a não ver com bons olhos. O que de certeza não vai facilitar no futuro o nosso trabalho como missionários.