Os bispos católicos de Moçambique, reunidos em Conselho Permanente, no Centro Catequético de Guiúa, em Inhambane, publicaram uma mensagem sobre os atuais desafios da unidade nacional
Os bispos católicos de Moçambique, reunidos em Conselho Permanente, no Centro Catequético de Guiúa, em Inhambane, publicaram uma mensagem sobre os atuais desafios da unidade nacional a mensagem, dirigida às comunidades cristãs e a todos os moçambicanos de boa vontade, versa sobre os desafios que se colocam hoje à unidade nacional do país. Um apelo à fraternidade, à solidariedade e ao diálogo num momento em que Moçambique vive um período caracterizado por forte tensão política causada pelo sentimento de exclusão de uma parte significativa da população. No início da mensagem, os bispos reafirmam o valor da unidade nacional, a qual não pode estar ancorada nos meros limites geográficos do país nem mesmo na letra morta das leis que regem o Estado, mas sim na comunhão real dos moçambicanos, animados pelo mesmo espírito de fraternidade e de solidariedade, na construção duma nação próspera. Nesse sentido, a consolidação da unidade nacional não pode jamais ser considerada um monopólio exclusivo de alguns grupos fechados em si mesmos e obcecados pela ganância do poder político e económico. a unidade nacional constrói-se todos os dias, com a participação de todos os moçambicanos, sem exclusão de ninguém. a exclusão social e política fragiliza a unidade nacional. Os bispos advertem que, por causa da partidarização de grande parte das instituições do estado moçambicano, o número dos excluídos na tomada de decisões importantes sobre o país e seus cidadãos cresce vertiginosamente e o governo revela-se cada vez menos capaz de executar alguns dos objetivos fundamentais do Estado: a edificação de uma sociedade de justiça social e a criação do bem-estar material, espiritual e de qualidade de vida dos cidadãos; a promoção do desenvolvimento equilibrado, económico, social e regional do país; a defesa e a promoção dos direitos humanos e da igualdade dos cidadãos perante a lei; o reforço da democracia, da liberdade, da estabilidade social e da harmonia social e individual; a promoção de uma sociedade de pluralismo, tolerância e cultura de paz; o desenvolvimento da economia e o progresso da ciência e da técnica; a afirmação da identidade moçambicana, das suas tradições e demais valores sócio-culturais; razão pela qual a unidade nacional está cada vez mais ameaçada por interesses meramente partidários ou de algum grupo de pessoas singulares. Os bispos apresentam ainda exemplos concretos patentes aos olhos de todos: a injustiça gritante da pobreza esmagadora da maioria, enquanto alguns enriquecem desonestamente e vivem no fausto; a ausência de transparência na exploração dos recursos naturais e o total desrespeito pelo meio ambiente; a extorsão de terras aos camponeses nacionais para a implantação de megaprojetos que só favorecem as multinacionais estrangeiras e uma minoria insignificante de cidadãos moçambicanos; a ambição desmedida de funcionários públicos que fazem da corrupção, da pilhagem e do branqueamento de capitais o seu modus vivendi, para o próprio enriquecimento; o recurso à força, arrogância e intolerância para impor as próprias ideias e opiniões; os pleitos eleitorais feridos frequentemente de irregularidades, reduzindo assim a sua atendibilidade e anulando a participação do povo na escolha dos governantes do país; a exclusão social, económica e política de tantos moçambicanos; tudo isso torna a unidade nacional cada vez mais tremida e impede que se viva em ambiente de verdadeira família, onde cada membro se ocupa pelo bem-estar do outro. apátridas no próprio país a exclusão, que torna apátridas os moçambicanos no seu próprio país, deve dar lugar à inclusão social, verdadeiro cimento da unidade nacional. Para consolidar a verdadeira unidade nacional, é urgente – afirmam os bispos – que todos se empenhem na construção dum país próspero e saudável: através da inclusão sociocultural, com políticas de acesso à educação séria e de qualidade, que permitam a todos os cidadãos serem agentes do seu próprio desenvolvimento e do país; através duma política de difusão dos serviços gerais de saúde para todos respeitando a vida e a dignidade de cada cidadão moçambicano; através da garantia da liberdade de expressão, como pressuposto indispensável para um diálogo sincero e verdadeiro, onde cada um se sinta livre de expressar as próprias opiniões, sem temer pela sua incolumidade física; através da inclusão económica, favorecendo a participação de todos, particularmente dos jovens e dos camponeses, na construção da riqueza do país, velando para que o crescimento económico seja realmente sustentável e não à custa do sacrifício das gerações vindouras; através da inclusão política, onde todas as forças vivas da comunidade nacional: partidos políticos, sociedade civil, organizações não governamentais e associações privadas, tenham espaço suficiente para o diálogo, em vista da construção dum estado verdadeiramente democrático. Para que os moçambicanos se sitam unidos e corresponsáveis na vida pública é necessário diálogo. afirmam os prelados: Se a inclusão sociocultural, económica e política são os pilares da unidade nacional, o caminho mestre para a sua consolidação é o da procura sincera do diálogo e da participação de todos os moçambicanos na vida do país, através da escuta sincera e respeitosa das propostas e opiniões de todos; da real adequação dos processos de governação à situação concreta do país, procurando sempre atuar aqueles modelos de governação que mais respondam aos interesses de todos os cidadãos, mormente os mais desfavorecidos; através da implementação de políticas concretas de inclusão e de participação de todos na vida da nação, renunciando à opinião errada de que a maioria pode fazer tudo sozinha, ignorando sistematicamente a opinião válida e qualificada dos grupos minoritários. Na conclusão, os bispos saúdam e encorajam as várias iniciativas, de pessoas singulares ou de grupos, que visam a construção duma verdadeira unidade nacional, marcada por um clima de comunhão, de justiça, de solidariedade, de fraternidade, de paz e de reconciliação.