O Papa participará em Filadélfia nas Jornadas da família e prevê-se um banho de multidão. afinal o primeiro Papa das américas nunca pisou até hoje solo norte-americano, nem sequer enquanto era apenas conhecido como Jorge Bergoglio
O Papa participará em Filadélfia nas Jornadas da família e prevê-se um banho de multidão. afinal o primeiro Papa das américas nunca pisou até hoje solo norte-americano, nem sequer enquanto era apenas conhecido como Jorge BergoglioUm quarto dos americanos são hoje católicos, o que faz dos Estados Unidos da américa, um dos países com mais seguidores da Igreja de Roma, à frente até da Itália. Francisco vai sentir na pele essa nova realidade, algo surpreendente, pois em setembro participa em Filadélfia nas Jornadas da Família. Será a primeira vez que este Papa pisa território norte-americano, pois nem quando era apenas o argentino Jorge Mario Bergoglio chegou a visitar o país

Com John Kennedy a ter sido até hoje o único católico presidente dos Estados Unidos da américa (EUa), é natural que persista a fama da américa como um país dominado por uma maioria branca anglo-saxónica e protestante com históricas desconfianças em relação ao Vaticano. Mas as aparências iludem, pois se é verdade que católicos na Casa Branca continuam uma raridade (John Kerry tentou em 2004, Joe Biden é hoje vice de Barack Obama mas ninguém o vê candidato em 2016), também é evidente que a demografia tem jogado a seu favor como comunidade, com a crescente população hispânica a somar-se aos descendentes de imigrantes italianos, irlandeses, polacos e portugueses para fazer com que na atualidade sejam um quarto dos 320 milhões de americanos. Ou seja, 80 milhões de crentes que fazem dos EU a o quarto país com mais católicos, atrás do Brasil, do México e das Filipinas, mas já à frente da Itália, tradicional bastião da Igreja.

É pois um país que vive um momento forte de afirmação do catolicismo na sociedade que em setembro de 2015 vai acolher o Papa. Francisco participará em Filadélfia nas Jornadas da Família e prevê-se um banho de multidão, afinal o primeiro Papa das américas nunca pisou até hoje a américa (aqui no sentido de Estados Unidos), nem sequer enquanto era apenas conhecido, até à sua eleição em 2013, como Jorge Mario Bergoglio, jesuíta argentino e arcebispo de Buenos aires. No passado recente, tanto João Paulo II como Bento XVI visitaram os EUa.

a história explica um pouco a aversão inicial dos norte- americanos ao catolicismo, seja porque os primeiros colonos no país pertenciam a seitas protestantes, seja porque no século XIX os imigrantes oriundos de países católicos aceitavam trabalhar por salários mais baixos e isso gerou uma atitude de repulsa da parte dos trabalhadores que se consideravam filhos da terra.

Esses preconceitos foram evidentes em 1928, quando o Partido Democrata candidatou al Smith à presidência. Na campanha duríssima contra o político católico, os rivais republicanos até chegaram a dizer que Smith planeava construir um túnel a ligar Washington a Roma para poder receber ordens diretas do Vaticano. E quando Kennedy se candidatou em 1960 o mesmo tipo de acusações repetiram-se, a ponto de ser suspeito de maior lealdade à Igreja que ao país. acabou por derrotar Richard Nixon, mas por uma margem mínima e diga-se que, numa campanha onde a TV começou a ser muito usada, a telegenia do filho de irlandeses combateu o preconceito. Já em 2004, a religião de John Kerry não foi grande tema de debate político, quase só mais uma curiosidade, ao mesmo nível de ser casado com Teresa, herdeira da fortuna Heinz e portuguesa.

a nova atitude dos Estados Unidos em relação ao catolicismo é comprovável pelo grande número de católicos no Supremo Tribunal, seis em nove, todos nomeados ao longo dos anos por diferentes presidentes e vitalícios no cargo. É a estes homens e mulheres que cabe interpretar a Constituição americana, velha de dois séculos, e dessa forma moldam muito do que é o país. Mas a tendência dos católicos americanos é para divergirem de algumas posições oficiais do Vaticano, seja apoiando na sua maioria o aborto ou o casamento homossexual, seja defendendo, também maioritariamente, a pena de morte. Há também algum choque entre a comunidade católica e a hierarquia da Igreja por causa dos escândalos de pedofilia, havendo suspeitas de que há uma recente perda de membros por causa destas situações, mesmo sendo casos isolados.

Depois das eleições intercalares de novembro passado, o Papa quando chegar à américa vai encontrar um Congresso com 27 senadores católicos (em 100) e 136 representantes católicos (em 435). E como na altura se falará já muito de presidenciais, talvez possa perceber se os católicos Jeb Bush e Marco Rubio, ambos republicanos, têm mesmo hipótese de chegar à Casa Branca. Talvez não esteja assim tão longe um segundo presidente católico nos EUa.