Existe uma grande expectativa sobre o modo como Francisco, tão pouco formal, lidará com uma visita rodeada de fortes medidas de segurança. E como expressará a sua emotividade tão latino-americana quando estiver em Belém, na basílica da Natividade
Existe uma grande expectativa sobre o modo como Francisco, tão pouco formal, lidará com uma visita rodeada de fortes medidas de segurança. E como expressará a sua emotividade tão latino-americana quando estiver em Belém, na basílica da NatividadeFrancisco visita em finais de maio a Jordânia, Israel e os Territórios Palestinianos. É a sua segunda viagem fora de Itália desde que sucedeu, em 2013, a Bento XVI. Falará de paz para todos no Médio Oriente, defenderá as minorias cristãs ameaçadas e dialogará com o chefe máximo da igreja ortodoxa, o patriarca Bartolomeu I. Também cheia de significado é a sua ida a essa Terra Santa tão ligada a São Francisco de assis, a quem o argentino Jorge Mario Bergoglio foi buscaro nome quando o conclave o elegeu para líder dos 1. 200 milhões de católicosNum Médio Oriente em que ninguém se costuma entender, destaca-se o convite a Francisco para visitar a Terra Santa em maio, feito tanto por Shimon Peres, Presidente de Israel, como por Mahmud abbas, o seu homólogo palestiniano. O primeiro é judeu, o segundo muçulmano, mas entre os povos que lideram há cristãos de várias confissões, muitas delas obedientes ao Papa. antes de Belém e de Jerusalém, Francisco visitará amã, capital da Jordânia, país árabe com uma pequena comunidade cristã. Será assim o quarto Sumo Pontífice dos tempos modernos a pisar a região onde nasceu São Pedro, depois de Paulo VI (1964), de João Paulo II (2000) e de Bento XVI (2009). E após tantos apelos insistentes à paz no Médio Oriente, feitos a partir de Roma, espera-se que o novo Papa aproveite os banhos de multidão e os contactos com os governantes para insistir na sua mensagem de tolerância. Mas não será apenas de diálogo político que se falará nesta visita agendada para 24 a 26 de maio. Francisco viaja no ano em que se celebra meio século da histórica deslocação de Paulo VI à Terra Santa e o anúncio da viagem foi feito a 5 de janeiro, exatamente 50 anos depois do encontro em Jerusalém entre o seu antecessor e o então patriarca de Constantinopla, atenágoras. Tratou–se do primeiro encontro entre os chefes máximos das igrejas católica e ortodoxa depois do Grande Cisma de 1054, ou seja, uma reunião esperada há 910 anos. Desta vez também Francisco se encontrará com o patriarca ecuménico de Constantinopla (a atual Istambul, na Turquia), Bartolomeu I, que lidera uma igreja com 300 milhões de crentes, presente sobretudo nos Balcãs, Rússia e outras ex-repúblicas soviéticas e ainda Médio Oriente, mas também com pequenas bolsas na américa do Norte e na Oceania por via da emigração. Há quem considere que o diálogo ecuménico entre a Santa Sé e o cristianismo ortodoxo poderá a médio prazo levar também a um encontro entre o Papa e Kirill, o patriarca de Moscovo. Fomos um só e o Papa veio para nos lembrar disso e renovar o espírito de unidade e de amor fraternal, afirmou o patriarca latino de Jerusalém, Fouad Twall. a reunião entre Francisco e Bartolomeu I terá lugar no Santo Sepulcro, em Jerusalém, e está previsto que assistam representantes das Igrejas anglicana e protestantes, frutos da reforma do século XVI que provocou o corte com Roma. Desde o Concílio Vaticano II, em meados do século passado, o diálogo entre católicos e protestantes, em especial luteranos, tem avançado. Existe também grande expectativa sobre o modo como Francisco, tão pouco formal, lidará com uma visita rodeada de fortes medidas de segurança. E como será que expressará a sua emotividade tão latino-americana quando estiver em Belém, na Basílica da Natividade, erguida no local onde os cristãos acreditam ter nascido Cristo, ou em Jerusalém, onde Jesus foi crucificado?Certo é que, além de apelar à paz, o Papa terá uma palavra de conforto para os cristãos do Médio Oriente, que resistem no Líbano e no Egito (apesar dos ataques a igrejas), mas que do Iraque à Síria (onde um quarto dos cristãos fugiu por causa da guerra) veem a violência sectária ameaçar a sua comunidade, impelindo muitos para a emigração. No último recenseamento feito pelo Império Otomano, em 1914, os cristãos eram um quarto da população do Médio Oriente, hoje serão cinco por cento, uns 12 milhões de pessoas. Não nos resignaremos a imaginar um Médio Oriente sem cristãos, disse o Papa Francisco em novembro do ano passado a um grupo de líderes religiosos da região. apesar de tudo, Israel e os Territórios Palestinianos, mesmo essa Faixa de Gaza governada pelo Hamas, continuam portos seguros para os cristãos árabes nesta época de fundamentalismo islâmico.