a solução para enfrentar a falta de vocações na Europa não passa só por África. Para Salvador Medina, conselheiro geral dos Missionários da Consolata para o continente americano, o futuro convida também a uma maior integração dos leigos
a solução para enfrentar a falta de vocações na Europa não passa só por África. Para Salvador Medina, conselheiro geral dos Missionários da Consolata para o continente americano, o futuro convida também a uma maior integração dos leigosFátima Missionária Enquanto colombiano e conselheiro geral para a américa do Instituto Missionário da Consolata (IMC) tem contactado de perto com novos movimentos sociais, sobretudo os indígenas. São visões muito diferentes das europeiasSalvador Medina Os novos grupos sociais, inspirados na espiritualidade e filosofia dos povos originários do continente americano, têm uma proposta a que chamam de projeto de vida, que assenta no bom viver, o que não é igual a viver bem. É uma vida com qualidade mas em comunhão com toda a criação e não apenas com os seres humanos. Eles respeitam a mãe terra, o cuidado da criação, a partilha da terra – que é comunitária – e os produtos da terra, que devem ser distribuídos. No fundo, têm o sonho da terra sem males, que é uma utopia mas que, em alguns lugares, está a concretizar-se. FM São grupos que se pensava estarem condenados à extinção? SM Sim, mas de há 50 anos para cá, têm vindo a levantar a mão e a dizer: Eu estou aqui. Estão organizados a nível continental e nacional e têm adotado uma filosofia de vida e uma espiritualidade, com formas próprias de ser, de viver, de trabalhar e legislar.com isto, têm-se tornado os novos sujeitos sociais na construção das nações, ao ponto de as terem levado, pela pressão, a redefinir as suas constituições, a declarar os países como multiétnicos, pluriculturais, multilingues e, consequentemente, a mudar as políticas educativas, económicas e territoriais. FM Essas mudanças fizeram-se sentir também ao nível da prática religiosa? SM Na verdade, era um continente muito ligado à religião católica, mas depois chegou o pluralismo que trouxe de volta as práticas religiosas ancestrais e levou a Igreja Católica a admitir que os indígenas tinham a sua religião, os afros tinham a sua religião, portanto, era preciso dialogar. Depois, surgiu a invasão do neopentecostalismo, oriundo sobretudo da américa do Norte, que gerou muitos movimentos religiosos, igrejas e até seitas. FM Isso aconteceu naturalmente ou foi facilitado por um certo entorpecimento da Igreja Católica? SM Digamos que tudo se junta. Porque, por um lado, tem havido alguma acomodação da Igreja Católica e, por outro, tem-se assistido ao florescimento do pluralismo, da liberdade, que reconhece direitos e diferenças. ao mesmo tempo, a Igreja ao não apoiar a teologia da libertação e as comunidades eclesiais de base, deixou-nos um pouco divididos internamente, dando espaço para tudo. FM a África pode ser a salvação da Igreja Católica na Europa em termos de vocações? SM Penso que não. É verdade que temos crise de vocações, mas depende de que lado estamos a olhar. acho é que a Igreja tem que florescer em África e o velho continente tem que mudar. Não sei qual o caminho a seguir para garantir a Eucaristia nas comunidades, mas não temos que trazer os missionários todos de África. Temos é que mudar a compreensão do ministério e dos sacramentos. Pode ser que o caminho seja desclericalizar. FM Essa necessidade de mudança é sentida também no campo da animação missionária? SM Nós, missionários da Consolata, sempre tivemos um conceito de animação missionária que pensava na missão vista a partir da Europa, uma missão que ficava longe. Isso parecia bem à comunidade cristã de cá e favorecia as comunidades de lá. agora a missão chegou, como uma exigência, também aqui. Já não podemos ficar a animar para uma missão que está longe. Temos que animar para uma missão ad gentes’, para os não cristãos que estão no meio de nós. E a estes que estão no meio de nós damos o nome de missão inter gentes’. Não se podem perder os muitos anos de caminhada na abertura da solidariedade para a universalidade. Mas a promoção humana transforma-se mais numa formação, em vez de uma ação suportada por estruturas físicas. Hoje, trabalha-se mais pela construção de cidadania, consciência dos direitos humanos, dos direitos dos povos e do direito da terra.