as mulheres são mais de metade da humanidade, mas constituem uma minoria quando se fala de força de trabalho
as mulheres são mais de metade da humanidade, mas constituem uma minoria quando se fala de força de trabalho a realidade varia de país para país, e com algumas surpresas, mas a regra é as mulheres fazerem trabalho em casa que não conta para o PIB, empregarem-se de modo informal ou receberem menos do que os homens. Mas mais mão de obra feminina enquadrada na economia oficial poderia fazer a riqueza de países como o Egito crescer 34 por cento e mesmo a dos Estados Unidos uns 5 por cento, estima o FMI, pela primeira vez liderado por uma mulher. Quem já percorreu a estrada que liga o aeroporto a Bombaim, a capital económica da Índia, viu ao longo do caminho mulheres franzinas, de sari colorido, a carregar tijolos à cabeça. algumas até seguidas de crianças pequenas. Entre estas mulheres e a nova administradora-chefe da General Motors (GM), Mary Barra, existe um mundo de diferenças, a começar pelas poucas rupias que as operárias indianas recebem e o salário anual de 14 milhões de dólares (com prémios) que a gestora do gigante automóvel americano terá visto atribuir pelos acionistas. a comparação faz sentido porque a Índia, admirável democracia que já teve mulheres presidente e primeira-ministra, continua a ser classificada como um dos cinco piores países do mundo para se nascer menina. E porque Barra, que começou a trabalhar na GM quando ainda estudava, acaba de ser eleita pela revistaFortune’ a mulher mais poderosa no mundo dos negócios, esses em que os Estados Unidos lideram com vasta vantagem muito por culpa também de terem sido pioneiros a integrar a metade feminina da população no mercado de trabalho. a Índia é um bom ponto de partida para uma reflexão sobre o contributo das mulheres para a riqueza nacional. Um estudo divulgado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) no ano passado calcula que o aumento progressivo das mulheres trabalhadoras no país traria um crescimento do rendimento médio por habitante na ordem dos 10 por cento. Ora, os mesmos cálculos aplicados a um país como o Egito significam um aumento do Produto Interno Bruto(PIB) de 35 por cento, com consequências no nível de vida da população e até na hierarquia das nações. O mais populoso dos Estados árabes, com 80 milhões de habitantes, tem um PIB de 220 mil milhões de dólares, o 40. o a nível mundial, mas passaria para cerca de 300 mil milhões, ou 33. o, ultrapassando países como Portugal. Segundo o FMI, que pela primeira vez tem uma mulher como diretora-geral, a francesa Christine Lagarde, a participação feminina na força de trabalho traz outras vantagens além do acréscimo de riqueza: recebendo salário, as mulheres ganham uma voz ativa nas decisões familiares e têm tendência a investir na educação dos filhos, o que acaba por beneficiar as meninas, muitas vezes vítimas de preconceitos culturais ou religiosos. Cria-se aqui um belo círculo virtuoso: mais educação significa mais possibilidade de encontrar trabalho, e estudos somados a emprego resultam num adiamento da idade do casamento, com reflexos na natalidade. E controlar a explosão demográfica é prioridade para países como a Índia ou o Egito. Lagarde, num encontro em setembro de 2013 em Nova Iorque patrocinado pela Clinton Global Initiative, do ex-presidente americano, declarou-se favorável a uma entrada maciça das mulheres no mercado de trabalho. E, segundo oWall Street Journal’, a chefe do FMI considerou que se há uma questão de iniciativa individual também há uma responsabilidade coletiva. Uma frase que desafia os governantes mundiais, na sua maioria homens, ainda que na Cimeira do G20 em Sampetersburgo tivessem marcado presença quatro mulheres: a brasileira Dilma Rousseff, a alemã angela Merkel, a sul-coreana Park Guen-hye e a argentina Cristina Kirchner. Um mapa da presença das mulheres na força de trabalho revela que esta é mais evidente na américa do Norte, na Europae em partes de África, o que coincide com o mundo desenvolvido, tirando a exceção africana ligada à agricultura. aliás, tende a existir uma coincidência entre a percentagem de mulheres trabalhadoras e o rendimento por habitante. Uma situação curiosa é a do Japão, que tem menos mulheres ativas do que a China ou o Brasil.com uma população envelhecida que dificulta o crescimento económico, o rico Japão poderá ter na sua população feminina uma arma secreta: o FMI calcula que, se a percentagem de japonesas empregadas igualasse a de homens, o PIB do arquipélago poderia crescer nove por cento. Voltemos aos Estados Unidos, de Mary Barra, que com a participação nas duas guerras mundiais viu as mulheres substituírem nas fábricas os homens chamados a combater. Tal como acontece no resto da OCDE(a trintena de países desenvolvidos), a participação feminina no mercado de trabalho passou a ser a regra (em especial nos serviços), o que não significa que não existam problemas, se bem que diferentes dos países em desenvolvimento. Se abundam os casos de profissionais bem remuneradas(ou até a nível milionário, como a número um da GM), a verdade é que continua a existir um fosso salarial na ordem dos 14 por cento, refletindo tanto pagamento diferenciado para trabalho igual como menos lugares de topo ocupados pelo sexo feminino. aliás, entre os gestores das mil maiores empresas dos Estados Unidos apenas cinco por cento são mulheres. Neste lado do atlântico, a União Europeia preconiza a regra de 40 por cento de mulheres nas administrações, seguindo o exemplo da Noruega, entre os melhores países do mundo para se nascer mulher. Se nos países pobres é o trabalho informal que mais afeta as trabalhadoras, no contexto do mundo rico há que apontar o dedo à sobrevivência de práticas discriminatórias, em especial no que diz respeito à maternidade. Falta mais legislação que proteja as mulheres que desejam constituir família, sendo que o alargamento das licenças e a sua partilha com os homens se têm revelado positivas. E isto num quadro, ao contrário do resto do planeta, em que o problema demográfico é a ausência de crianças.com exceção dos Estados Unidos, da Irlanda e da França, as mulheres ocidentais ficam aquém dos dois filhos necessários para a renovação das gerações. No atual contexto de desemprego nos Estados Unidos(6,6 por cento) e na União Europeia(11 por cento), parece haver pouco lugar para mais entradas no mercado de trabalho, neste caso de mão de obra feminina, mas a realidade é que qualquer ausência do sistema produtivo, involuntária ou voluntária, contribui para uma redução da riqueza potencial. Trata-se, neste caso, de um círculo vicioso. Por isso a estimativa do FMI de que com um reforço da presença feminina no mercado de trabalho, o PIB dos Estados Unidos poderia crescer cinco por cento. Curiosas são as recentes declarações de alison Carwath, presidente do grupo imobiliário Land Securities, um gigante britânico, sobre as mulheres no trabalho. aoFinancial Times’ defendeu que as empresas deem uma licença de maternidade que possa ir até seis anos. Se alguém quiser gastar, digamos, seis anos a ter crianças e a mantê-las fora da creche antes de regressar ao trabalho a tempo integral, as empresas deveriam considerá-lo para não perderem a pessoa, afirmou Carnwath, que não tem filhos e é uma das raras mulheres líder no mundo empresarial britânico. Claro que a gestora se refere a quadros altamente qualificados, que as empresas deveriam fazer tudo para manter, mas a sua sugestão mostra como o debate sobre o papel da mulher no mercado de trabalho, e logo na sociedade, está longe de estar terminado.