as rádios comunitárias tornaram-se numa importante ferramenta nos meios mais desfavorecidos e isolados, sobretudo em África e na américa do Sul. Dão voz aos sem voz e assumem um papel fundamental no desenvolvimento sustentável, cooperativo e participativo
as rádios comunitárias tornaram-se numa importante ferramenta nos meios mais desfavorecidos e isolados, sobretudo em África e na américa do Sul. Dão voz aos sem voz e assumem um papel fundamental no desenvolvimento sustentável, cooperativo e participativo a música andina ecoa, quase em surdina, na pequena sala que serve de estúdio à rádio comunitária Voces de Nuestra Tierra. Uma adolescente dirige-se à antecâmara, bate no vidro e avisa o animador que pretende ler uma mensagem. Ele levanta-lhe o polegar, faz-lhe sinal para se sentar em frente ao microfone que está do lado de fora do estúdio, interrompe a emissão e põe a voz da rapariga no ar. a cena passou-se em Jambaló, na cordilheira central dos andes Colombianos, mas podia passar-se em Moçambique, no Brasil, na argentina ou na Bolívia. O conceito de rádio comunitária é praticamente inexistente em Portugal, mas em África e no continente sul-americano, esta forma de comunicação tem vindo a assumir-se como uma importante ferramenta de ajuda ao desenvolvimento. a tal ponto, que as Nações Unidas têm apostado neste tipo de emissoras como instrumentos de participação cívica, como veículos para a defesa dos direitos humanos em contextos de extrema pobreza e antídotos ao isolamento, apatia e infoexclusão. Segundo Patrícia da Mota Paula, que defendeu uma tese de doutoramento em ciências dacomunicação no Instituto Universitário de Lisboa, as rádios comunitárias apresentam-se como a tribuna das preocupações e interesses das comunidades locais, normalmente marginalizadas e excluídas, servindo simultaneamente de escola de aprendizagem democrática onde, individual ou coletivamente, as prioridades fundamentais são expressas e exigidas. a partir de um estudo desenvolvido ao longo de quatro anos, com trabalho de campo em Moçambique e na Guiné-Bissau, a investigadora concluiu que, enquanto em algumas partes do mundo ouvir rádio é, antes de mais, uma rotina diária, na maior parte dos países do sul é o único meio de comunicação acessível a uma população maioritariamente iletrada ou a segmentos cujo salário não lhes permite comprar o jornal e muito menos um televisor. E é-o porque admite o uso de línguas locais faladas por minorias esquecidas, ultrapassa as barreiras impostas pelo analfabetismo (alcança pessoas que não sabem ler nem escrever) e adapta-se na perfeição a culturas dominadas pela oralidade. Por outro lado, o aparelho recetor pode ser a pilhas (que substituem a energia escassa ou inexistente), é relativamente acessível do ponto de vista económico, transporta-se facilmente e possibilita a escuta coletiva, refere Patrícia Paula. Instrumento de evangelizaçãoOs dirigentes da associação Mundial de Rádios Comunitárias (aMaRC), uma organização não governamental que congrega mais de 4. 000 estações emissoras, federações e centros de produção em pelo menos 115 países, por outro lado, destacam o papel fundamental destes meios de comunicação nas zonas rurais, pastorícias e costeiras, pelo contributo na promoção da segurança e cooperação entre agricultores, produtores de gado e pescadores. O que quer dizer que sendo 2014 o ano Internacional da agricultura Familiar, decretado pela Organização das Nações Unidas para a alimentação e agricultura (FaO), as rádios comunitárias podem assumir maior protagonismo e atrair a atenção pública mundial para a importância da agricultura familiar na redução da pobreza e da fome. Sendo um meio acessível e barato, que pode ser alimentado por uma central de energia solar, a radiodifusão tem servido até para estimular a paz e a harmonia entre comunidades, seja através da evangelização, ou da prevenção de conflitos. a rádio é um dos mais belos tesouros da Igreja. as mensagens que são emitidas entram na mente e no coração dos ouvintes e ajudam a comunicação e a comunhão. É um instrumento que atua em favor da paz, do amor, da instrução e na defesa da vida. Graças a esta técnica maravilhosa, a convivência humana assumiu novas dimensões. O tempo e o espaço foram superados e o homem tornou-se um cidadão do mundo, parceiro e testemunha dos eventos mais remotos e dos acontecimentos em todo o planeta, sublinhou o Conselho Episcopal Latino-americano, a propósito do Dia Mundial da Rádio, que se celebra a 13 de fevereiro.