Os sindicatos têm um dever do qual não se podem alhear perante a sociedade portuguesa: a defesa dos sindicalizados. Os interesses políticos dos partidos, dos quais são afetos por qualquer razão, deveriam findarOs sindicatos assumiram em Portugal uma importância primordial depois do 25 de abril. após a revolução, ou golpe de Estado, como preferirem classificar a tomada do poder em 1974 pelo Movimento das Forças armadas (MFa) – que mais tarde deu lugar ao Conselho da Revolução – e permitiu a abertura política com a consequente formação de estruturas de toda a ordem, incluindo sindicais.

Foi então que o Partido Comunista (PCP) saiu da clandestinidade, tendo aparecido como a única estrutura política organizada, apesar de estar pouco implantado em Portugal. a Intersindical, que havia estado na clandestinidade entre 1970 e 1974, apareceu como força sindical unitária antifascista.

No ano de 1978 nasce a União Geral de Trabalhadores (UGT), por rutura com a Intersindical, que engloba as restantes tendências não comunistas. São estas duas centrais sindicais que ao longo de mais de trinta anos aglutinam os sindicatos formados, e outros que entretanto se implantaram, nos mais variados setores.

a aderência de estruturas e pessoas ao movimento sindical foi-se alargando, mas isso não implicou a melhor qualidade do trabalho em prole do bem comum, com a agravante de sindicatos e cúpulas passarem a ser orientadas pelos interesses políticos dos partidos afetos, desvirtuando grandemente a sua verdadeira ação. Por outras palavras, os sindicatos passaram a constituir uma ferramenta política dos partidos.

Durante muitos anos foi possível aos sindicatos reclamarem direitos e regalias para os seus e a verdade é que foram adicionando melhores condições, especialmente monetárias e laborais. No entanto, com a má gestão de sucessivos governos, o país foi-se endividando, não só o Governo da Nação, mas também as empresas públicas e privadas, começando a emergir aquilo a que hoje chamamos a crise.

a nova situação económica que se abateu sobre o país não foi acompanhada e explicada pelos sindicatos, pelo contrário meteram a cabeça na areia aproveitando para agudizar a luta de classes exigindo os mesmos direitos, tal como anteriormente era possível graças a uma economia mais saudável.

atualmente assistimos a contestações quase permanentes na maior parte dos setores públicos e privados que são controlados pelos sindicatos, reclamando aquilo que na prática verificamos não ser possível. a defesa dos trabalhadores já só serve como desculpa para atingir fins políticos dos diversos partidos envolvidos dentro ou fora da área do poder.

Com esta prática perdem todos os trabalhadores, sejam sindicalizados ou não, mas o país na sua globalidade perde muito mais, com paragens, greves e afins, não permitindo a estabilidade necessária e depauperando – talvez irremediavelmente – a economia nacional. Para além disso, cria um fosso maior perante aqueles que estão desempregados, aposentados ou para entrar no mercado de trabalho, o que é injusto.

Este fim de semana a CGTP – Intersindical mobilizou os seus aderentes para mais uma ação de protesto, desta vez rumando em autocarros com passagem pela ponte 25 de abril (ponte Salazar) para um mega comício em Lisboa. O protesto era para ser realizado passando a ponte a pé, mas como o Governo não autorizou, a saída foi fazê-lo de outra forma. Não pomos em causa os direitos dos sindicatos nestas ações, apenas lamentamos que outras não sejam equacionadas no aspeto formativo e social que são a génese destas estruturas.

Todos sabemos que a situação económica do país resvala para o abismo, levando as pessoas com ela, mas é necessário trabalhar pelo positivo. Tantas horas utilizadas (talvez inutilmente) poderiam render mais se os sindicatos não se preocupassem com os aspetos políticos da crise, mas antes na sua superação, pelo menos na parte que lhes cabe.