O verão foi fértil em emoções fortes para os 40 jovens missionários leigos, da família Consolata, que participaram em campos de férias, em Portugal e no estrangeiro. Independentemente da fé de cada um, no final, todos regressaram diferentes
O verão foi fértil em emoções fortes para os 40 jovens missionários leigos, da família Consolata, que participaram em campos de férias, em Portugal e no estrangeiro. Independentemente da fé de cada um, no final, todos regressaram diferentesParti em busca de um caminho que há muito procurava, voltei passados 27 dias com a fé que há tanto me fugia. Voltámos, sem dúvida, todos mudados, mas tenho a felicidade de dizer que voltei tendo encontrado aquilo que procurava e muito mais. Miguel Mata, 21 anos, estudante de medicina, residente na Ericeira, Sintra, sintetiza assim a sua participação num dos quatro campos de férias que o Instituto Missionário da Consolata (IMC) organizou este verão. O surfista viajou integrado num grupo de 10 elementos, até à Costa do Marfim. Recebeu o primeiro banho de acolhimento missionário na missão de Marandallah (onde trabalha o sacerdote português João Nascimento), mas foi em Dianra que passou por uma experiência inesquecível. Partilhou duas semanas de atividades numa colónia infantil e descobriu uma forma diferente de olhar para o essencial. Vivi a energia de 20 jovens que dedicam semanas inteiras a entreter, educar e ensinar a viver as crianças, numa atitude pioneira completamente oposta à sua cultura e que terá certamente repercussões em toda a sociedade; uma energia que faz mais de 200 jovens católicos percorrer numa procissão cantante e dançante uma aldeia em que 97 por cento das pessoas são muçulmanas; uma energia que realmente nos faz acreditar! Senti-me em casa, a mais de 3. 300 quilómetros, e senti que realmente a missão vive e tem sentido!. Maria João Lopes, 23 anos, residente na Guarda e finalista de medicina, também foi à Costa do Marfim e não imaginava o quanto lhe iam ser úteis a bata branca e o estetoscópio, que arrumara a um canto da mala. Em cinco anos dedicados à medicina, nunca me tinha sentido tão útil, tão preenchida, tão integrada como naquele centro de saúde onde falta muito, mas onde sobra ainda mais. Sobra humanismo, amor, partilha, profissionalismo, sobra espírito de sacrifício, conta a jovem, que passou um mês frenético, dividida entre os partos, as consultas, os trabalhos de laboratório e a vacinação no Centro de Saúde Católico Nossa Senhora da Consolata.combater as coisas fúteis O testemunho destes dois voluntários ilustra bem o impacto que uma aventura desta dimensão pode ter na vida de quem a experimenta. São experiências que marcam profundamente os jovens porque os questiona, seja na sua existência, seja na sua fé. E leva-os a ver a vida por outro prisma, que tem mais a ver com o essencial e não com as coisas fúteis e superficiais com que são confrontados muitas vezes aqui na Europa, explica Luís Maurício, coordenador dos campos de férias missionários. Dentro da linha de inovação e mudança que a região portuguesa do IMC tem vindo a imprimir, este ano foi lançado um desafio aos jovens para a participação em quatro campos de férias – um na Costa do Marfim, outro na Tanzânia, o terceiro na Polónia e o quarto no Bairro do Zambujal, no concelho da amadora. O mais complicado foi assegurar a logística, tendo em conta a dispersão geográfica do projeto. Ultrapassado este obstáculo, passou-se a uma segunda fase. a seleção dos voluntários. Dos 60 inscritos, foram escolhidos 40, depois de analisado o currículo e o fundamento motivacional. O primeiro grupo partiu em finais de julho, o último regressou em princípios de setembro. Para lá levaram expectativa, para cá trouxeram convicção. Na Tanzânia, os jovens portugueses instalaram-se na missão do Ubungo, nos arredores de Dar es Salaam. O objetivo era ajudarem a reabilitar dois infantários, um em Ubungo e outro em Moshi, localidades onde estão a trabalhar dois missionários da Consolata. O padre português Casimiro Torres e o recém-ordenado Tesha antipas, que desenvolveu trabalho pastoral com os jovens de Águas Santas, quando esteve em Portugal como seminarista. aposta com futuro Na Costa do Marfim, os leigos missionários desdobraram-se em deslocações para conhecerem os locais onde a Consolata pretende construir escolas para combater o elevado índice de analfabetismo, e em contactos para criarem pontes para futuros intercâmbios com jovens marfinenses. Um pouco diferente foi o campo de férias na Polónia. O desafio era caminhar durante dez dias, numa peregrinação ao Santuário de Czestochowa, com 4. 000 crentes, muitos deles estudantes universitários. O calor e as bolhas nos pés emprestaram uma dose de sofrimento extra à caminhada. Mas a generosidade dos polacos, ao longo de todo o percurso, fez esquecer as provações. além de oferecerem comida e água, alguns moradores até puseram as mangueiras do lado de fora da casa para nos podermos refrescar, recorda Raquel GonçAlves, de 20 anos, residente na região do Porto. Finalmente, em território nacional, os jovens selecionados para o campo de férias no Bairro do Zambujal dividiram-se no apoio ao trabalho pastoral da equipa de missionários que trabalha naquela zona. Feito o balanço, com nota positiva, as atenções viram-se já para o próximo ano. Queremos continuar a apostar neste tipo de ações, que vão mais além do que meras experiências filantrópicas. Os jovens, pelo menos alguns, andam à procura de transcendência. E esta nova maneira de presenciar a missão abre-lhes janelas, para poderem redescobrir a presença de Deus no mundo. Para os que têm fé, ela torna-se mais forte, para os que não a têm, ficam com as portas abertas para o caminho da procura, conclui Luís Maurício.