Quando terminou o seu mandato em 1999, Mandela recusou recandidatar-se. a decisão de se afastar do poder, apesar da popularidade, contribuiu ainda mais para a construção do mito
Quando terminou o seu mandato em 1999, Mandela recusou recandidatar-se. a decisão de se afastar do poder, apesar da popularidade, contribuiu ainda mais para a construção do mitoNelson Mandela passou quase 30 anos detido, boa parte deles na ilha-prisão de Robben, por defender os direitos da população negra da África do Sul. advogado de formação, começou por lutar por meios pacíficos contra o regime racista branco, mas depois do massacre de Sharpeville, em 1960, com a polícia a disparar sobre a multidão, optou por receber treino militar e veio a chefiar o ‘Unkhonto We Sizwe’, ou ‘Lança da Nação’, o braço armado do aNC. Considerado o preso político mais célebre do planeta, Mandela era, porém, um mistério até 1990, quando foi libertado. E a surpresa aconteceu quando, em vez do robusto quadrigenário de barba negra que surgia na mais famosa das suas fotos, se viu um homem de cabelo grisalho, com mais de 70 anos, de aspeto frágil. E maior foi ainda a estupefação quando o antigo chefe guerrilheiro se revelou uma voz moderada, querendo que o seu país se transformasse numa nação arco-íris. Mandela teve um parceiro importante em todo o processo para pôr fim ao regime de ‘apartheid’, Frederik De Klerk, último chefe de Estado na versão racista da África do Sul. Decididos a encontrar forma de implementar a democracia que traria também o domínio da maioria negra, os dois líderes foram tão inspiradores que em 1993 lhes foi entregue o Nobel da Paz. Depois, em 1994, nas primeiras eleições multirraciais da história sul-africana, o aNC obteve uma vitória esmagadora e Mandela recebeu um impressionante voto de apoio da população, com 63 por cento, contra os 20 por cento de De Klerk. Decidido a ganhar a confiança da minoria branca, de ascendência holandesa, britânica e também portuguesa, escolheu o seu adversário como um dos dois vice-presidentes. Para muitos dos cinco milhões de brancos sul-africanos, um décimo da população, Mandela passou também a ser visto como figura paternal. Quando terminou o seu mandato em 1999, Mandela recusou recandidatar-se. a decisão de se afastar do poder, apesar da popularidade, contribuiu ainda mais para a construção do mito. Numa África onde os líderes costumam se eternizar, ‘Madiba’, como é chamado, mostrou ser diferente. Desde então, dedicou-se à sua fundação, que combate a pobreza e a sida, e tornou-se figura de referência mundial. Um bom exemplo da homenagem que lhe é prestada foi o sucesso do filme ‘Invictus’, que mostra como Mandela usou o raguêbi em 1995 para unir os sul-africanos, fazendo com que um desporto considerado dos brancos se tornasse paixão dos negros. Gravemente doente, Mandela continua a ter a admiração do mundo. aos 95 anos vive rodeado de filhos, netos e bisnetos e da sua terceira mulher, Graça Machel, viúva do presidente moçambicano Samora.