« a forma calorosa e desinteressada como nos acolhem é simplesmente inacreditável, para além do grande exemplo de humildade, simplicidade e generosidade que todos os dias nos consegue surpreender»
« a forma calorosa e desinteressada como nos acolhem é simplesmente inacreditável, para além do grande exemplo de humildade, simplicidade e generosidade que todos os dias nos consegue surpreender»Joana Matias, de 22 anos, foi este ano reforçar a presença do grupo missionário Ondjoyetu na região montanhosa do Gungo, em angola. Depois de 128 dias de missão, e já em Portugal, a jovem, licenciada em enfermagem e residente na Urqueira (Ourém), partilhou com a Fátima Missionária a sua experiênciaQue atividades desenvolveu no Gungo?Estive principalmente na área da saúde. Fiz identificação de patologias, aconselhamento terapêutico e consultas de vigilância. No entanto, também realizava outras funções, se assim fosse necessário, como tarefas domésticas. O que mais a impressionou? Para além das paisagens belíssimas, as pessoas. a forma calorosa e desinteressada como nos acolhem é simplesmente inacreditável, para além do grande exemplo de humildade, simplicidade e generosidade que todos os dias nos consegue surpreender. Quais são as maiores carências da população? Sinceramente, não sei dizer quais as maiores carências deste povo, pois ele nada possui. No local de missão não há eletricidade, água potável ou rede de telemóvel. as casas são construções em adobes, e as camas são esteiras em cima de paus ou no chão. a alimentação é preparada ao lume e a água para cozinhar, beber e tomar banho é toda proveniente dos rios. Há poucos locais com posto de saúde, e mesmo esses são deficitários. as crianças cumprem um plano de vacinação? as crianças que se encontram perto dum posto de saúde procuram cumprir, mas as que têm que caminhar muitas horas para aí chegar não o fazem. Por outro lado, as condições de armazenamento das vacinas nem sempre são as mais adequadas, pelo que não é certa a sua eficácia. as crianças frequentam as aulas? O governo angolano procura criar condições para que as crianças frequentem a escola, mas ainda existem muitas que não vão às aulas. apesar de existirem vários níveis de ensino, as crianças não conseguem assimilar o que lhes é transmitido, seja por dificuldades de aprendizagem ou por um método de ensino deficitário. as crianças no 5. º ano, por exemplo, sabem identificar as letras, mas têm muita dificuldade em ler. Há algum episódio que a tenha marcado? Existem duas experiências que mais me marcaram. a Páscoa foi uma delas. Marcou-me pela alegria e a fé com que as pessoas a vivem. Normalmente, a Páscoa no Gungo coincide com o tempo das chuvas, ou seja, os caminhos ficam intransitáveis. Por isso, procuramos permanecer num local acessível. Foi incrível observar centenas de pessoas a deslocarem-se sob condições adversas para celebrarem a Páscoa connosco. Outro momento marcante foi a minha última subida ao Gungo. À nossa chegada, estava toda a população à nossa espera e encontrámos uma casa que a própria população havia construído para a equipa ficar. aquelas pessoas esperaram mais de 12 horas pela equipa missionária. Foi incrível ver como quem nada tem ainda consegue dar um pouco. Quais são os seus planos para o futuro? Neste momento os meus planos para o futuro passam por arranjar emprego e desenvolver-me a nível profissional. O desemprego jovem assusta-me muito, no entanto, a vida é cheia de dificuldades e de provações, por isso, não vou desistir de arranjar trabalho no meu país sem tentar. Mas, se tiver que emigrar não tenho medo.