Doze das mulheres nomeadas são colombianas. Trabalham pelos direitos humanos e outras causas humanitárias num país com uma realidade cruel.
Doze das mulheres nomeadas são colombianas. Trabalham pelos direitos humanos e outras causas humanitárias num país com uma realidade cruel. Este ano 1000 mulheres como colectivo aspiram ao prémio Novel da Paz, e 12 são colombianas representando propostas solidárias e importantes para a garantia dos direitos políticos, económicos, sociais e culturais.
O jurado fez a selecção tendo em conta a contribuição para a paz desde a sua condição de indígenas, afro-descendentes, deslocadas, sindicalistas, académicas, defensoras dos direitos humanos e promotoras da qualidade de vida em diferentes regiões do país. a quatro de Outubro o comité de Oslo dará a conhecer os resultados.

as 12 candidatas colombianas

a mulher indígena nasa é como a terra, é a que pare os filhos e os mantém, a que facilita as possibilidades de vida. Precisamente uma mulher indígena estava na esquina de uma mesa que juntava inteligência e força, com as outras colombianas nomeadas para o prémio Novel da Paz.
apresentaram-se a 29 de Junho no Hotel Bacatá, em Bogotá, às 10 da manhã. à mesma hora, em diferentes lugares do planeta, outras 987 mulheres de mais de 150 países, apresentavam os seus nomes numa nomeação que quer dizer ao mundo que não é uma instituição ou uma espécie de Messias, mas uma força plural e multicultural que não quer a guerra e trabalha quotidianamente pela paz.
Falta uma mulher para serem mil. é o símbolo de todas as que foram vulneradas nos seus direitos, representando a todas as mulheres em qualquer lugar do mundo.
“Há mais de 500 anos estamos a pedir que não acabem com os nossos recursos, com a riqueza cultural e espiritual dos nossos povos, que nos deixem em paz”, disse Maria Beatriz aniceto Pardo, líder da associação de Cabildos Nasa Chxachxa, símbolo das muitas expressões da sociedade civil que reclamam autonomia e justiça como pilares da construção da paz.
Cada uma das mulheres seleccionadas por Colômbia foi tomando a palavra. Hilda Maria Domicó Bailarí­n, da etnia Katio da região do Urabá antioquenho, usou o seu idioma e depois reafirmou a sua identificação com as imagens de mulher que partilham o mesmo interesse de lutar pela qualidade de vida das mulheres.
Com a sua voz doce e segura, Patrí­cia Buriticá Céspedes tomou a palavra em nome das mulheres que como elas reivindicam os direitos das trabalhadoras e cada dia apostam na paz, não com conjecturas, mas com actos quotidianos e permanentes.
Por seu lado, Beatriz Elena Rodrí­guez, emocionada, recordou os abusos que sofrem os seus conterrâneos quando o seu corpo se torna “troféu dos autores da guerra”.
Núbia Castaí±edo Bustamante, defensora dos direitos dos afro-descendentes, deu relevo a esta postulação por permitir ver a sua província, o Chocó, como um exemplo de maltrato e exclusão. Clamou pelas vítimas do conflito que estão desenraizadas, a pior de todas as dores, porque “a paz também passa pelos nossos corpos”.
“Represento as mulheres deslocadas, camponesas, chefes de família”, disse Maria Eugenia Zavala, viúva de Pólo e uma das vítimas que transformaram a sua dor para usá-la em favor das famílias de Monterí­a, na província de Córdoba, através da unidade de produção Valle Encantado.
Também Virgelina Chara falou dando voz aos deslocados, especialmente afro-descendentes, que perderam o direito ao território e ao regresso. as suas acções procurando dar respostas sociais, económicas e culturais, estão animadas pelo seu trabalho como cantora e autora de música.
No outro canto da mesa levantou-se Maria Tila Uribe, uma pedagoga de 74 anos. Falou no valor da educação como recurso para alcançar a paz. Não uma educação de títulos, mas libertadora que permita sair da “história de um país toda a vida submetido a um império”.
Na mesma linha, Rafaela Vos Obeso, como socióloga de Barranquilla, reivindicou o seu papel como académica que assumiu na sua vida a defesa dos direitos humanos. “Formamos uma rede de símbolos e abrimos rotas de pensamento”, inspiradas no Grupo Mujer y Sociedad de la Universidad Nacional de Colombia, “sem disparar um único tiro, ajudamos a transformar o país na sua atitude de vida”. Saudou esta candidatura ao Novel como uma proposta ética, na medida em que junta o discurso com a vida mesma.
Foi mencionada Yolanda Becerra, nomeada em representação da Organización Femenina Popular de Barrancabermaja, que se encontra exilada em consequência do seu trabalho de resistência no movimento contra a guerra.
Com humildade e sem fazer gala da sua habitual coragem, ana Teresa Bernal, membro da equipa coordenadora e porta-voz nacional da Rede de Iniciativas pela Paz, mostrou uma guacamaya (um tipo de papagaio multicolor) para significar esta ocasião multicultural que permitiu a nomeação, como uma proposta colectiva “com a esperança de construir um mundo onde todos e todas tenhamos lugar com as nossas diferenças”. Realçou a proposta deste Novel com mil mulheres como “um acontecimento político para a Colômbia e o mundo que tanto precisam de uma grande força de paz”.