O presidente da Comissão Nacional de Justiça e Paz, adriano Langa, proferiu na catedral de Inhambane, uma homilia profundamente interpelante, numa análise destemida e corajosa sobre os rumos da sociedade moçambicana

O presidente da Comissão Nacional de Justiça e Paz, adriano Langa, proferiu na catedral de Inhambane, uma homilia profundamente interpelante, numa análise destemida e corajosa sobre os rumos da sociedade moçambicana
Tal como o povo de Israel que depois da alegria, entusiasmo e esperança conheceu a desilusão, ao ver o seu país pilhado e destruído pelos ocupantes (Is. 7,17ss), também o povo moçambicano faz hoje esta experiência,recordou o bispo de Inhambane, na homilia de Natal,evocando a independência e a reconciliação dos moçambicanos como a aurora de esperança, face às potencialidades económicas do país e às situações que fragilizam e ameaçam o futuro. Entreos casosmais graves, adriano Langa enumerou a questão da posse da terra, pois os acordos de parceria para a sua exploração entre os investidores estrangeiros e as comunidades rurais não estão sendo integralmente cumpridos, situação que coloca, paulatinamente, os nacionais fora das sociedades e sem terras. Em seguida, lançou a pergunta: o que ainda pertence aos moçambicanos, da terra, das florestas, do mar e da costa marítima deste Moçambique por aí fora? Quando alguém pretende extorquir um espaço vai ter com a população, acompanhado de alguma autoridade ou funcionário de uma instituição e usa a expressão: é para o benefício público’. Para uma população tão sofrida e amordaçada como a nossa, esta expressão mete muito medo. Quase ninguém ousa apresentar argumentos em contrário nem exigir qualquer direito, nem o da indemnização, denunciou o bispo, apresentando casos concretos. Sem receios, o prelado não se coibiu em apontar os responsáveis por estas situações. algumas vezes as autoridades locais estão mais do lado dos pretendentes, dos quais, não poucas vezes, já receberam benefícios, ainda que irrisórios. À corrupção e ao medo se junta a ignorância das populações e das próprias autoridades tradicionais, em relação às leis e aos direitos. Há tanta burla neste nosso Moçambique, sobretudo lá no longínquo interior, afirmou adriano Langa. a finalizar, o bispo propôs um maior controlo sobre os investidores e sobre os autoridades locais, para todas saberem estar mais ao lado das populações, na defesa dos seus direitos e não ao lado dos tubarões. E reafirmou a disponibilidade da Igreja para dar a sua mão nesta batalha, através das comissões de Justiça e Paz, pedindo apenas confiança, meios e o espaço necessário para que possam atuar como tal, com pedagogia própria, sobretudo na formação e consciencialização das populações. Uma intervenção direta e sem rodeios, verbalizando e desvendando um mal-estar generalizado, por muitos sentido mas tantas vezes silenciado, revelando uma chaga por sarar no frágil tecido social e económico moçambicano, uma chaga que ninguém parece ver, como se ninguém quisesse curar. Foi esse o repto lançado por adriano Langa. Denunciar e mudar, para bem da Justiça e da Paz do povo e da terra de Moçambique.