a trabalhar há cinco anos no centro nutricional Notre Dame de la Consolata, no Congo, Ivo Lazzaroni, leigo missionário da Consolata, espera continuar a contar com proteção divina para lidar com problemas tão complicados como a propagação do ébola
a trabalhar há cinco anos no centro nutricional Notre Dame de la Consolata, no Congo, Ivo Lazzaroni, leigo missionário da Consolata, espera continuar a contar com proteção divina para lidar com problemas tão complicados como a propagação do ébolaInfelizmente, neste momento, precisamente aqui em Isiro (República Democrática do Congo) estamos a viver uma situação bastante crítica e dramática. a notícia oficial saiu no dia 18 de agosto, mas já algum tempo antes se tinha espalhado a voz. Embora muita gente não a tivesse levado a sério, o facto é que havia já várias mortes misteriosas. O vírus da Ebola reapareceu, não se sabe como, mas seguramente mete medo. Não existem remédios ou vacinas e para 80 por cento dos atingidos é mortífero. No princípio, quando havia só suspeitas, todos a tomavam de modo demasiado superficial, mas quando a notícia se tornou oficial, caiu o gelo sobre a cidade de Isiro. Nenhum rumor, nenhum canto ou vozes de crianças pelas ruas: é uma atmosfera irreal. Tomaram-se algumas medidas de prevenção, dentro do possível. Pararam as atividades do Centro Nutricional, dado o número elevado de pessoas que o frequentavam, como medida de precaução. O Centro já reabriu mas estamos sempre em estado de alerta. É aqui que vemos muitas crianças que vêm para a escola infantil. São bonitas e alegres, mas encontramos também pela rua os chamados enfants sorciers, cuja infância foi destruída pela insânia ligada à superstição. São acusados pelos seus familiares de exercer poderes ocultos. São obrigados a suportar humilhações e violências incríveis e atirados para fora de casa. Têm dos dois aos doze anos. Temos depois os deficientes físicos e mentais, os órfãos da SIDa, mas sobretudo as crianças desnutridas: uma centena por dia. Mete dó vê-las com o olhar apagado, sem sorriso, seres frágeis, apertadas nos braços trémulos de mães malnutridas ou jovens vítimas da SIDa. Recentemente, chegou cá uma mãe, com problemas mentais e paralisada de uma mão. São braços amorosos à procura de ajuda e de conforto. Mas é aí que, apertando essas mãos, cruzando os seus olhares ou contemplando os seus sorrisos, as nossas mãos substituem as mãos de Nossa Senhora da Consolata com Jesus ao colo. É então que percebo que a nossa presença no meio deste povo é uma presença consoladora. Procurando levar a consolação aos outros esquecem-se também os graves problemas que neste momento nos rodeiam – como é o caso da Ébola – dando-lhes, com todas as nossas fragilidades e as nossas limitações, aquele amor que lhes foi negado ou que simplesmente nunca tiveram. Procuramos dar-lhe a dignidade que lhes foi negada e a esperança que sustém a nossa fé. Que a Nossa Senhora nos ajude a caminhar sem medo ao lado das pessoas e das realidades que cada dia vamos encontrando. Que Ela nos ajude a entender o desígnio de seu Filho sobre cada um de nós.