Cansado de sofrer, o povo fez ouvir a sua voz, mesmo que isso não interessasse ao poder político. “Basta de austeridade” foi a palavra de ordem que marcou as manifestações de 15 de setembro
Cansado de sofrer, o povo fez ouvir a sua voz, mesmo que isso não interessasse ao poder político. “Basta de austeridade” foi a palavra de ordem que marcou as manifestações de 15 de setembro Há todo um caminho a percorrer no sentido do reequilíbrio das contas do Estado português, que passa por um conjunto de sacrifícios que terão que ser, necessariamente, distribuídos de forma equitativa, por todo o povo. O incentivo continuado desde o 25 de abril para uma vida melhor a qualquer preço, com reivindicações sindicais, especialmente na obtenção de melhores condições – o que levou a maior parte dos trabalhadores a considerá-las como direitos adquiridos – e toda uma estratégia de consumismo inerente, não foram acautelados devidamente. Nos últimos anos os partidos políticos preocuparam-se quase exclusivamente com o poder, nomeadamente partidário, e os seus benefícios, esquecendo as obrigações assumidas e conduzindo o país à situação de pré-bancarrota em que se encontram o Estado e as famílias. as manifestações da semana passada tiveram o condão de trazer para as ruas gente de todas as categorias sociais, possivelmente até muitos que nunca quiseram saber da política, mas que agora sentem na pele os seus efeitos da má prática política. Os partidos políticos pós 25 de abril conseguiram em momentos da história reunir grandes multidões nas ruas, mas nunca com números tão elevados, tendo ainda em conta uma adesão territorial que cobriu quase todo o país. Uma manifestação convocada por anónimos, pessoas do povo, diga-se, utilizando um dos meios mais agregadores das redes sociais: o facebook. No momento atual o descontentamento das pessoas é elevado, muitas sentem o desespero, a falta de esperança num futuro risonho e foram para a rua exprimi-lo, sem medo. Nunca assistimos a um ajuntamento tão maciço de pessoas em torno de um slogan como este: Basta de austeridade, fora com a troika. Qual a razão fundamental para que isto acontecesse? as últimas medidas de austeridade que haviam sido anunciadas pelo primeiro-ministro, especialmente aquelas que consubstanciavam a subida da Taxa Social Única (TSU) para os trabalhadores e a descida da mesma para as empresas. Ou seja, o consumar de uma política que tem sido seguida pelo atual governo de impor taxas e impostos aos menos protegidos pela sociedade, não fazendo o mesmo em relação aos serviços do Estado, Parcerias Público Privadas e outras empresas de envergadura privadas ou não. Foi a gota de água que fez transbordar o copo da equidade e que permitiu exprimir a revolta pacífica das pessoas. a manifestação era contra o Governo, mas também foi para contestar os políticos e as suas práticas. as pessoas já não acreditam nos políticos, é bom que estes o entendam e comecem a trilhar caminhos diferentes. ainda é cedo para analisarmos se o poder político entendeu o desejo manifestado pelo povo. Mas a verdade é que já deu alguns frutos. a taxa social única (TSU), por exemplo, será alterada ou mesmo retirada. É um começo para que haja uma inversão de práticas políticas, o que é de louvar, embora seja insuficiente. Foi bom ouvir alguns políticos, que professam o seu ideal cristão, vir a público manifestarem-se, mas continua a saber a pouco. a Igreja tem tido um papel muito importante, através das suas instituições ou IPSS, mas continuam a ser poucos os responsáveis que dão a cara. Sabemos que a Igreja, enquanto hierarquia, não quer interferir na política, mas a verdade é que deve estar ao lado e apoiar, sem medo, toda a população, tendo em conta o bem comum. Os Pastores da Igreja têm que estar com o seu rebanho nos momentos atribulados ou serão criticados e esquecidos. O exemplo está na ação e não nas palavras.