Nota Pastoral dos Bispos Católicos apresentada nas paróquias e dioceses de Moçambique, no âmbito das comemorações dos 20 anos do acordo Geral de Paz que pôs fim à guerra civil
Nota Pastoral dos Bispos Católicos apresentada nas paróquias e dioceses de Moçambique, no âmbito das comemorações dos 20 anos do acordo Geral de Paz que pôs fim à guerra civilConstruir a Democracia para preservar a Paz é o título da Nota Pastoral dos Bispos Católicos, apresentada domingo, 26 de agosto, nas paróquias e dioceses de Moçambique. O documento, considerado corajoso e muito atual, é alusivo à celebração dos 20 anos do acordo Geral de Paz, assinado no dia 4 de outubro de 1992, em Roma, que pôs fim à guerra civil no país. a Conferência Episcopal de Moçambique, por ocasião do 20º aniversário da assinatura do acordo Geral de Paz, quer refletir com os católicos sobre o caminho percorrido nestas duas décadas de paz e de convivência democrática. Pretende avaliar os frutos positivos alcançados, discernir o que ainda precisa de ser consolidado e chamar a atenção para alguns constrangimentos e ameaças no processo da construção de um Moçambique independente, soberano, pacífico e capaz de assegurar a prosperidade e o bem-estar para todos. Neste sentido, na primeira parte da Nota Pastoral, os bispos, depois de recordarem que a paz é um bem comum a preservar por todos, enumeram os frutos alcançados: reconciliação nacional, democracia, liberdade de expressão, afirmação da sociedade civil e a reconstrução e expansão de algumas infraestruturas sociais e económicas. Na segunda parte do documento, chamam a atenção para os males e fraquezas da democracia em Moçambique que são ameaças à paz e à convivência democrática, como as práticas autoritárias nos partidos políticos; a absolutização dos partidos e o culto da personalidade; o fraco espírito de diálogo, respeito e tolerância pelo diferente; a usurpação das riquezas do país por uma elite restrita. Os bispos lançam também um olhar sobre a vaga de descobertas de recursos minerais no país e manifestam-se preocupados com o risco de essa riqueza se poder converter em pesadelo. Se vierem a faltar a sabedoria, a prudência e políticas justas e clarividentes na sua exploração, os recursos naturais podem tornar-se em pesadelo, alertam. É evidenciada a ambivalência dos chamados mega-projetos ligados à extração de gás natural, carvão, areias pesadas e outros minérios por parte de multinacionais. E lançado um alerta para o perigo destas riquezas em vez de criarem prosperidade e bem estar para todos, por motivos de ganância e corrupção material e moral, se transformarem em fonte de desigualdades, de violência, de criminalidade organizada, de destruição e morte. Na conclusão, o episcopado convida todos os moçambicanos a comprometerem-se com a reconciliação, com a justiça e a paz. Se queremos preservar a paz é necessário e urgente um repensamento e debate inclusivo das nossas opções e prioridades no campo ético, político, económico e social. Trata-se de fazer de Moçambique uma casa para todos os moçambicanos e não um mercado para os mais espertos; superar a pobreza não só económica mas também espiritual; repensar a política dos ‘megaprojetos’; educar para os valores da solidariedade e a partilha, sublinham. Para quem já contactou com o documento, considera-o corajoso, de extrema acuidade e atualidade social e política, que ousa dizer e explanar o que todos vêm e sentem, sem porém terem voz para se fazer ouvir. E encara-o como um forte apelo a todos os elementos da sociedade: dos dirigentes políticos e empresas, aos sacerdotes e fiéis, em que cada um é chamado a intervir e assumir o compromisso de zelar para que Moçambique seja realmente de e para todos os moçambicanos.