O país é pouco maior que Portugal e vive há décadas com medo de uma guerra, mas mesmo assim consegue ser uma das 20 maiores potências económicas do mundo
O país é pouco maior que Portugal e vive há décadas com medo de uma guerra, mas mesmo assim consegue ser uma das 20 maiores potências económicas do mundoO país é pouco maior que Portugal e vive há décadas com medo de uma guerra, mas mesmo assim consegue ser uma das 20 maiores potências económicas do mundo e as suas empresas de tecnologia são líderes globais, como é o caso da Samsung, que este ano já vende mais telemóveis que a finlandesa Nokia. Um caso de sucesso como nação, este da Coreia do Sul, que também tem os seus heróis improváveis, como o filho de emigrantes na américa que foi agora escolhido para presidente do Banco Mundial ou a órfã, adotada por um casal europeu, que se tornou ministra em França. Quando Kim Jong-suk nasceu, em 1973, a Coreia do Sul era um país muito mais pobre e nos anos 1960 tinha mesmo índices de desenvolvimento comparáveis aos de África por causa da guerra com a Coreia do Norte (1950-1953). abandonada numa rua de Seul com poucos dias de vida, passou seis meses num orfanato da capital sul-coreana até ser adotada por um casal francês. Passadas quatro décadas, a criança chama-se Fleur Pellerin e, em maio, tornou-se ministra francesa, dando nas vistas na tomada de posse em Paris pela sua elegância de traços orientais. Também na própria Coreia do Sul, o sucesso da menina abandonada não passou despercebido, com o jornal Chosun Ilbo’ a celebrar o sucesso da compatriota, mesmo que no passaporte a nacionalidade de Fleur seja, desde há muito, a francesa. É que os coreanos dão muito valor à questão do sangue e, por isso, não hesitam em ficar felizes com este tipo de notícias. E coreanos de sucesso parecem não faltar por estes dias. Os Estados Unidos impuseram um cidadão seu como presidente do Banco Mundial, mas na realidade Jim Yong-kim só é americano porque em miúdo acompanhou a família em busca de melhor vida no outro lado do Oceano Pacífico. Se não fosse a aventura dos pais, Jim seria ainda compatriota de Ban-Ki-moom, o secretário-geral da ONU que é, sem dúvida, o mais famoso dos sul-coreanos. Esta série de coincidências serve para destacar o milagre coreano. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, esse povo asiático está dividido por motivos ideológicos que pertencem ao passado. No início, à ditadura comunista que mandava no Norte opunha-se no Sul um regime militar pró-americano. Mas se a Coreia do Norte preferiu ser autossuficiente e manter-se uma autocracia, já a Coreia do Sul optou por apostar na globalização e beneficiar do comércio internacional, ao mesmo tempo que se democratizava. E os seus grupos económicos tornaram-se marcas poderosas, como a Samsung, que no primeiro trimestre de 2012 vendeu mundo fora 86 milhões de telemóveis, ultrapassando a finlandesa Nokia, a tradicional líder do setor. Foi na época em que a agora ministra francesa nasceu que o milagre sul-coreano começou. Na década alargada de 1966-1977 a riqueza nacional média por habitante duplicou. Muito apoio estatal à indústria, mas também muito engenho e vontade de trabalhar. a Coreia do Sul regista todos os anos mais patentes que a alemanha ou a França. E os resultados escolares dos seus miúdos brilham nas comparações internacionais. Está aí o segredo do sucesso de uma sociedade que é de matriz budista, mas em que um quarto da população se confessa cristã (católicos e protestantes). Há quem atribua o êxito da Coreia do Sul (terceira economia asiática e 13. a mundial) ao apoio político americano. Mas também é preciso perguntar até onde teria ido o país se não fosse a ameaça de guerra e as fortes despesas militares. E nunca se deve desvalorizar um povo que conquistou nas ruas a democracia, graças aos estudantes e aos operários que ousaram desafiar os militares. Não nos admiremos que o made in’ Coreia continue a dar.