Os pedidos de asilo não eram tão altos desde 2003. O ano passado, os 44 países mais industrializados receberam quase meio milhão de solicitações para acolherem pessoas que queriam fugir de guerras, perseguições ou dos horrores de um conflito
Os pedidos de asilo não eram tão altos desde 2003. O ano passado, os 44 países mais industrializados receberam quase meio milhão de solicitações para acolherem pessoas que queriam fugir de guerras, perseguições ou dos horrores de um conflito a cara aparece desfocada por questões de segurança. aos 13 anos, Hussaini, já tem uma longa história para contar. Não envolve sonhos com estrelas de futebol, jogos de Playstation ou telemóveis de última geração. Ele sonha apenas com a liberdade, com a possibilidade de um dia vir a poder reencontrar a família. Para o manter longe das ameaças dos talibãs, no afeganistão, o pai vendeu a casa e pagou a um contrabandista de pessoas, que o levou para o Paquistão, depois para o Irão, Turquia e, finalmente, para a Grécia. aí, depois de um dia inteiro a pé pelas montanhas, sem nada para comer, ficou entregue à sua sorte. No depoimento em vídeo que prestou aos elementos do alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (aCNUR), manifestou a intenção de tentar a sua sorte na Grã-Bretanha. Depois da gravação do testemunho, os técnicos da ONU perderam-lhe o rasto. O caso de Hussaini é apenas uma gota de água no vasto oceano de refugiados, que todos os anos se veem obrigados a deixar as suas casas, países e famílias. Segundo o aCNUR, a cada minuto, oito pessoas abandonam tudo para fugir de guerras, perseguições ou das atrocidades de um conflito. O ano passado, os 44 países mais industrializados receberam 441. 300 pedidos de asilo. O país do pequeno Hussaini – o afeganistão – foi de onde partiu o maior número de solicitações. Seguiram-se a China, Iraque, Sérvia e Paquistão. No total, verificaram-se mais 73. 300 pedidos de acolhimento, em relação a 2010. Foi um aumento de 20 por cento, que catapultou a cifra de refugiados para a taxa mais alta dos últimos oito anos, de acordo com o último balanço feito pelo alto Comissariado, liderado pelo português antónio Guterres. O nosso país também não escapou a esta tendência de crescimento. Desde 2009 que os pedidos de asilo a Portugal têm vindo a aumentar. Dos 139 requerimentos formulados nesse ano, passou-se para 188 em 2011, segundo o Conselho Português para os Refugiados (CPR). Nestes três anos, foram os naturais da Guiné Conacri quem mais pediu para se refugiar em território português (93). Destaque ainda para um número significativo de pedidos da Colômbia, República Democrática do Congo, Costa do Marfim ou Nigéria. Para sensibilizar e aproximar as pessoas das circunstâncias que resultam em situações de refúgio, o aCNUR aproveitou o Dia Mundial do Refugiado, que se assinalou a 20 de junho, para lançar uma campanha pela tolerância. a atriz e realizadora angelina Jolie foi uma das celebridades que emprestaram a voz às diversas mensagens sobre a complexidade de fatores que levam alguém a pedir asilo. Pequenos vídeos, disponibilizados através da internet, trouxeram a público a história de Hussaini e de outras vítimas, que se viram obrigadas a fugir, deixando para trás uma vida, uma família, um passado de atrocidades difíceis de entender. Por fim, foi criado um jogo de computador com aplicativos gratuitos para o smartphone, que se baseia em casos verídicos e desafia o utilizador a experimentar as sensações vividas pelas famílias separadas por conflitos ou perseguições. a ideia central é colocar o espectador perante o mesmo dilema de milhares de refugiados: Ficaria e arriscaria a vida no conflito, ou fugiria, arriscando ser sequestrado, violentado, torturado ou algo ainda pior?, interrogam os autores da campanha, sublinhando que ninguém escolhe ser um refugiado.