Especialista em temas relacionados com a sexualidade humana e o mundo do exorcismo, a irmã Maria Lacambra considera que muitos dos formadores dos seminários do país onde trabalha não estão preparados para lidar com estes assuntos
Especialista em temas relacionados com a sexualidade humana e o mundo do exorcismo, a irmã Maria Lacambra considera que muitos dos formadores dos seminários do país onde trabalha não estão preparados para lidar com estes assuntosMaria Blanca Lacambra, da congregação das Servas da Verdade, reside em Bayamón, Porto Rico, e trabalha há muitos anos com diversos grupos da arquidiocese de San Juan, na procura de soluções para os problemas das disfunções sexuais, possessões diabólicas e exorcismos. Numa entrevista a José antónio Vidal, jornalista da agência Zenit, fala abertamente sobre os traumas sexuais e propõe algumas soluções. JaV – Porque é que o tema da sexualidade, com suas perversões, se tornou notícia de todos os dias? MBL – Em primeiro lugar considero a sexualidade sagrada, criada por Deus e, portanto um presente seu. as perversões são ocasionadas por vários fatores inerentes a traumas, violações e abusos de todo tipo. Sendo Porto Rico uma sociedade matriarcal, onde a mãe faz quase tudo em relação aos filhos, e o pai se dedica a trazer o sustento para o lar, – hoje muitas mães trabalham e não têm tempo para os filhos -, são os filhos que ficam afetados por isso e em muitos casos se debilitam. Tudo isso faz com que muitas feridas fiquem impressas no cérebro e os acompanhem por toda a vida. Se estas feridas não são tratadas com cuidado por diversos profissionais qualificados na matéria, juntos com a consciência séria da participação de Deus nas nossas vidas, teremos diante de nós adultos com muitos distúrbios de comportamento e de personalidade; problemas que mais adiante se manifestarão tanto na vida matrimonial como na vida religiosa. – O pode ser mudado? – Existem sacerdotes, psiquiatras, psicólogos e sexólogos que trabalham com isso. E pelo que a experiência está me ensinando, é necessário trabalhar rapidamente para eliminar, na medida do possível, as feridas que impedem os homens de adquirir a libertação; lembremos de que somos imagem e semelhança de Deus e são as feridas que nos impedem de sentir no nosso ser esse menino ou menina criada por Deus e que constantemente está gritando dentro de nós porque quer ser o que Deus, Nosso Senhor quis que fosse: seu filho ou filha querida. – Como agir preventivamente com aqueles que entram nos seminários e conventos? – Vejo que está sendo feito algo ultimamente, mas pouco. Que se faça um teste psicológico não é suficiente, porque se a pessoa é inteligente poderá manipular todos aqueles que a queiram mudar e não se poderá saber como é na realidade o candidato. Os candidatos não dizem muitas coisas que se deveria saber antes de entrar no convento, para serem ajudados. Vêm com muitas feridas da infância e da adolescência. Mais, considero que existe medo pelo tema da sexualidade; não se aprofunda como se deveria fazer. Lembremos que a sexualidade abarca o corpo, alma e espírito e portanto, nos acompanha ao longo de toda a vida e se não nos é familiar, amiga, diria, como é possível amá-la e deixar que ela cumpra com o fim para o qual Deus, Nosso Senhor a criou? – Tem conhecimento de casos concretos? – Se entramos nas comunidades deparamo-nos com tantas coisas que estão acontecendo a nível mundial, seja com sacerdotes, religiosas, pastores e nos escandalizamos mas… , quem acompanhou estes candidatos à vida religiosa e sacerdotal no aspeto da sexualidade? Por acaso os seus pais? É triste constatar que muitos pais não sabem nada do que se refere a este tema tão importante. Eu diria que nem sequer alguns formadores e superiores de comunidades religiosas têm muito conhecimento desse tema. Muitos jovens entram no seminário ou na vida religiosa com a intenção de ficar, seja porque têm vocação ou por outras causas que já conhecemos; algumas delas não muito positivas. O fato de que hão haja formadores devidamente preparados para acompanhar estes candidatos, supõe que perante o voto de castidade tenham problemas. além do mais, o mero fato de saber que existe fortes tentações, não supõe necessariamente que não existe a vocação. Justamente os meios utilizados contra o maligno nestes momentos são importantíssimos: a oração, a receção dos sacramentos, o santo terço, e acima de tudo, o acompanhamento de uma pessoa – geralmente o superior e o diretor espiritual – tanto no terreno espiritual como humano. – No período de formação para o sacerdócio ou para a vida consagrada, quais são os sinais de alerta? – Eu diria que um apego excessivo ao superior, pois estão à procura de um pai; no caso das jovens, na superiora uma mãe. E isso se manifesta ao longo de toda a vida. acredito que um candidato a religioso ou religiosa, que não tenha recebido o amor dos pais, terá muito mais dificuldade de seguir em frente sem ajuda. a necessidade de masturbar-se, de ver pornografia; a necessidade de estar horas diante da tela; o viver uma vida totalmente secularizada e superficial, são indícios da falta de compromisso diante de um assunto tão importante. – Que orientações podem ser dadas durante a formação? – Na formação é necessário orientar os candidatos para terem uma vida de intensa oração, porque esse amor esmaga e apaga todo o resto. Mas não é o único. a nossa natureza é humana e, portanto, deve ser tida em conta. Se o amor radica na sexualidade, é impossível amar sem ser afetivo. Deus é amor! E quão bem o Papa Bento XVI nos dá a entender isso na sua Encíclica Deus Caritas Est. Os formadores devem ter conhecimentos da pessoa humana; devem preparar-se em sexologia e ser maduros afetivamente. Estudaram filosofia, teologia mas sabem pouco de afetividade se não provêm de uma família onde mamaram e foram testemunhas do amor que o pai tinha pela mãe e vice-versa; devem ter tido experiências de um amor filial que é o eixo da maturidade afetiva e do espírito. O sentido da castidade bem compreendida e vivida, leva a um amor tão grande que não se precisa de ninguém no caso do cônjuge; e de ninguém mais que o Esposo, no caso do celibatário.