a dor e a raiva pelo assassinato do pai levaram a menina a partir para as montanhas, para integrar um grupo armado
a dor e a raiva pelo assassinato do pai levaram a menina a partir para as montanhas, para integrar um grupo armado Não pensei no facto de abandonar a minha mãe e o meu irmão. apenas parti, achando que teria um futuro melhor, explicou Elisa a uma jornalista a agência da ONU para os Refugiados (aCNUR). a menina, que relata a sua experiência identificada com um nome fictício, por questões de segurança, cresceu numa aldeia da Colômbia, rodeada de grupos armados ilegais. Fazia parte do seu dia a dia ver pessoas com armas ou em situações de ameaça constante. aos 13 anos, essa violência atingiu-a diretamente. O pai foi assassinado. Se até então tinha resistido às tentativas de recrutamento dos grupos de guerrilheiros, o sofrimento e a fúria gerada pelo assassínio, levaram-na a tomar a atitude extrema de se juntar aos rebeldes. Integrada num grupo armado irregular, ficou responsável por uma série de tarefas dentro do acampamento: limpeza, cozinha e transporte de armas e folha de coca, em embalagens que pesavam até dois quilos. Durante os 14 meses que passou na floresta, foi castigada apenas uma vez, por ter recusado transportar um aquecedor. Teve que fazer mais turnos de vigilância e cozinhar ao longo de um mês. O dia a dia do campo era difícil. Eu tinha que acordar muito cedo, às 4h30 da manhã, para buscar madeira, preparar o café da manhã e começar o turno, do dia ou da noite, recordou Elisa, sublinhando, que apesar disso, nunca pensou em deixar o grupo. Quando você está ali, não vê nenhum outro futuro e tudo o que pode fazer é continuar, acrescentou. Mas o dia da desmobilização chegou. E da pior forma. Num combate entre a guerrilha e as forças colombianas, sofreu um ferimento grave e foi levada pelo exército para o hospital. após quinze dias de internamento, teve que ser transferida para outra unidade distante da região para evitar a perseguição da guerrilha. a menina chegou a temer ficar paraplégica e agarrada a uma cadeira de rodas, tendo em conta o diagnóstico dos médicos, mas acabou por dar os primeiros sinais de recuperação, depois de sete meses de tratamentos. auxiliada pelas autoridades colombianas, reencontrou a família, recebe um subsídio mensal e vive com outros jovens que abandonaram a guerrilha. agora, com 19 anos, sonha ser enfermeira e já frequenta o primeiro ano do curso, numa universidade. Segundo um relatório divulgado recentemente pela organização Tribunal Internacional para Infância afetada pela Guerra, instalada em Londres, cerca de 14 mil crianças estão ligadas a conflitos armados internos na Colômbia. São usadas como informadoras, na instalação de minas terrestres, como escravas sexuais e para cultivos ilegais, que são uma fonte importante de financiamento das ações dos grupos ilegais. Hoje, Elisa tem uma opinião diferente sobre a guerrilha, mas à época acreditava que essa era a única oportunidade que tinha para alcançar uma vida melhor.