O ano letivo já arrancou em Moçambique há cerca de um mês. Milhares de alunos enchem estradas e picadas a caminho das muitas escolas que salpicam este grande país. São muitas as escolas e são tantos os alunos que veem esta realidade de longeO ano letivo já arrancou em Moçambique há cerca de um mês. Milhares de alunos enchem estradas e picadas a caminho das muitas escolas que salpicam este grande país. São muitas as escolas e são tantos os alunos que veem esta realidade de longe a aventura do sistema educativo é uma aposta ganha. Porém, à medida que nos aproximamos, vemos melhor os frágeis contornos desta dura realidade. Se é verdade que muitas escolas já têm salas e carteiras para os alunos estudarem, não é menos verdade que há quase outras tantas em que os alunos se sentam no chão, em salas construidas com frágil material local, sem portas e sem janelas.
No Guiúa é uma alegria ver os caminhos povoados de crianças rumo à escola contígua à paróquia de Santa Isabel. São mais de mil alunos, mas não sei quantos saberão ler e escrever. Se nos aproximarmos mais um pouco e entrarmos com eles na sala de aula é com perplexidade que nos deparamos com salas repletas. Uma pequena multidão, de sessenta e setenta crianças aperta-se quatro a quatro em carteiras que deveriam ser só de dois e a custo os cadernos tentam encaixar-se no tampo das mesas. ao professor só resta avançar com os conteúdos, sendo impossível acompanhar, quem tem dificuldades, quem não percebeu ou quem não esteve atento. Se nos aproximarmos mais ainda, vemos nos cadernos de algumas crianças riscos que copiam do quadro sem saber o significado, um confuso contorcionismo de linhas que se assemelham a caracteres, letras cujos nomes desconhecem. a leitura é um trapézio onde nem todos se aventuram.
Na nossa missão o apoio à educação dos filhos dos catequistas em formação é um compromisso que levamos muito a sério. Graças a esta aposta, no ano passado, as crianças da quarta classe ficaram a saber ler. Este ano, damos apoio a cerca de 30 crianças da primeira à sétima classe. Entre todas, apenas uma sabe ler bem. O nosso objetivo é que 16 das restantes 29 conheçam as letras e aprendam a ler. as outras 13 não sabem sequer português, a língua oficial do ensino. a estas ensinaremos vocabulário e procuraremos desenvolver a motricidade fina. Paralelamente na Escolinha da Missão, cerca de 36 crianças aprendem todos os dias as primeiras palavras em língua portuguesa e assim procuramos contrariar este ciclo de analfabetismo. É este o nosso propósito, o nosso empenho: contribuir para compensar as fragilidades de um sistema educativo, sem rumo, nem verdade, que todos os anos debita alunos com poucas possibilidades de aceder a um trabalho digno, no quase inexistente e seletivo mercado de trabalho.