” a Europa enfrenta neste momento a pior crise desde os anos 30 do século passado”, o crescimento económico e o emprego caí­ram e “a percentagem dos novos pobres tende a aumentar cada dia” referiu o presidente da Rede Europeia anti-Pobreza (REaP)
” a Europa enfrenta neste momento a pior crise desde os anos 30 do século passado”, o crescimento económico e o emprego caí­ram e “a percentagem dos novos pobres tende a aumentar cada dia” referiu o presidente da Rede Europeia anti-Pobreza (REaP)” a Igreja devia estar mais capaz de se inserir na mudança da sociedade e às vezes fica também a dar o euro e pouco mais e isso não chega”, disse o padre Jardim Moreira, presidente da Rede Europeia anti-Pobreza (REaP), à comunicação social, no final de uma conferência sobre o tema “Do sonho europeu à realidade da crise: os novos pobres”, promovida pela Universidade Lusófona do Porto. Em relação aos seguidores da Igreja, lembrou que “o cristão é que aquele que ama o seu próximo, não lhe dá um euro, e se interessa pela solução dos problemas do seu semelhante, não é pela manutenção do pobre, e na sua dependência”. Jardim Moreira demonstrou grande realismo e arrojo ao afirmar que, na luta contra a pobreza, “a Igreja tem metido muita água” e acrescentou haver “bispos” que já lhe deram respostas “estúpidas” sobre essa mesma questão.

O presidente da REaP considerou que o empobrecimento, “neste momento é inevitável” e que “vai certamente passar por ter de cortar muitas despesas secundárias. Não há solução à vista porque não há rendimentos, portanto, como temos vivido acima das nossas capacidades e da nossa riqueza, vamos ter de viver com a realidade natural de cada pessoa, de cada família e do país”, acrescentou. “Portugal sofre também as consequências directas de um sistema capitalista selvagem ou neoliberal, que levou a que os nossos governantes deixassem de governar, mas sim a governarem-se”, afirmou.

Jardim Moreira fez notar que “o país, mais do que de tanga, está na miséria e a taxa de desemprego irá agravar-se e quebrar a fasquia dos 13%, em grande medida devido aos efeitos recessivos das medidas de austeridade”. “Ouvi peritos dizer que pelo menos estes dois últimos anos foram de uma grave irresponsabilidade de governação. Os responsáveis por esta situação deviam ser responsabilizados e pedir-lhes contas do que andaram a fazer com o dinheiro do bem público”, asseverou.

O “assistencialismo” não é solução para o problema” porque “manter a pessoa no assistencialismo é ofendê-la e humilhá-la”, disse, citando Bento XVI, porque “obriga estar constantemente de braço estendido a pedir aquilo a que tem direito”. O padre considerou que há instituições, em Portugal, que praticam assistencialismo, tendo mencionado o Banco alimentar Contra a Fome, “porque é mais cómodo e têm depois uma certa projecção sobre os fracos”. “É equívoco chamar luta contra a pobreza àquilo que é assistencialismo”, afirmou peremptoriamente.

Em relação à política do actual Governo, aquele responsável encontra “duas coisas” positivas, embora com “alguma reserva: em primeiro lugar, “fala verdade e isso é importante” e, em segundo, “aposta na dignidade das pessoas”. Recordemos que apesar de contundentes, as palavras do presidente da REaP devem ser tidas em conta, não apenas pela análise lúcida que faz da realidade portuguesa, mas por que acompanha o fenómeno da pobreza há mais de 20 anos à frente daquele organismo, o que, só por si, atesta o conhecimento que demonstra.