a caridade não faz mal ao próximo. Ela é o cumprimento pleno da lei, diz-nos a Carta aos Romanos
a caridade não faz mal ao próximo. Ela é o cumprimento pleno da lei, diz-nos a Carta aos RomanosSomos aquilo que somos, porque o Senhor Jesus veio à terra convidar-nos para fazermos parte da sua Igreja. Somos seus convidados de honra. No entanto, Jesus sabia que, ao convidar-nos a pertencermos a ela, a sua Igreja teria pecadores no seu seio. Todos nós somos pecadores. Somos doentes, espiritualmente, à procura da cura que nos torne dignos do Reino de Deus. Para que tal possa acontecer, precisamos do perdão: de o receber e de o dar. Recebemos carradas de perdão de parte de Deus e temos de conceder aos nossos irmãos e irmãs o perdão das culpas que, por acaso, cometam contra nós. Mas isto de perdoar aos outros não terá um limite?

Não somos os primeiros a sentir este dilema: quantas vezes perdoar a quem nos tem ofendido. Sempre o mesmo generoso e atiradiço, Pedro pensou, um dia, fazer um acto de boa figura diante dos colegas. Dado que era costume dizer-se que se deve perdoar três vezes (às três faz vez!), Pedro pergunta a Jesus: Senhor, se meu irmão me ofender, quantas vezes devo perdoar-lhe? até sete vezes?.com certeza, pensava Pedro, ia tudo ficar admirado com a sua grande generosidade. a resposta do Mestre deve ter sido como um balde de água fria para Pedro: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes. Para Pedro, perdoar setenta vezes sete vezes ao seu irmão andré deve ter soado como um disparate, um exagero impossível.

É então que Jesus conta a parábola daquele rei que tinha dois devedores e quis fazer contas com eles. Chegou o primeiro que devia ao rei dez mil talentos, uma soma tão avultada que só o perdão da parte do rei podia resolver o problema. Dez mil talentos correspondiam mais ao menos ao salário de sessenta milhões de dias de trabalho. Pobre servo, lança-se aos joelhos do rei e pede-lhe que espere até ele lhe poder pagar tudo. Cheio de compaixão, o rei não só aceitou, mas perdoou-lhe a dívida toda. Uma história incrível da parte de Jesus, ou melhor, da nossa parte! Uma história que é o conto da vida de cada um de nós. Não! Não é muito compreensível esta história, porque normalmente não fazemos uma ideia clara do que é o pecado contra o Deus infinito e infinitamente bom. O servo que devia os dez mil talentos é na realidade cada um de nós.

Pedro precisava de uma resposta. Jesus, que dissera: Eu vim para chamar os pecadores, e não os justos, deu-lhe a resposta. O servo perdoado encontra um colega que lhe devia o dinheiro correspondente ao salário, mais ou menos, de cem dias de trabalho. agarrou-o pelo pescoço e fê-lo meter na cadeia até lhe pagar a dívida toda. O pior, ou o melhor, é que esta é a nossa história, a história de cada um de nós. Na verdade, é difícil olharmos para o espelho onde se encontram claramente visíveis todas as nossas maneiras de comportamento negativo. O espelho que o Senhor Jesus, centro absoluto da nossa vida, carinhosamente nos mostra na esperança que nós vejamos a mesquinhez que, por vezes, colora a nossa vida. É sempre difícil confrontarmo-nos com a profundidade das nossas avarias. Jesus trata-nos de maneira diferente daquela com que nós tratamos o próximo. Em vez de nos vender para pagarmos toda a nossa dívida, foi ele que foi vendido pelas trinta moedas que, para nós, ganharam o direito à vida eterna, o direito a sermos sua Igreja aqui na terra. Que de agradecimentos!