Missionários da Consolata, em Salvador, Baía, promoveram um debate sobre políticas públicas e cotas na universidade, a 15 de agosto. a reflexão contou com a presença de vários membros da paróquia, da pastoral afro e um bom número de jovens e convidados
Missionários da Consolata, em Salvador, Baía, promoveram um debate sobre políticas públicas e cotas na universidade, a 15 de agosto. a reflexão contou com a presença de vários membros da paróquia, da pastoral afro e um bom número de jovens e convidados Se nós vemos coisas erradas ou crueldades, que temos o poder de evitar e nada fazemos, somos coniventes, escreve anna Sewell, in Black Beauty,1877.
Falando sobre políticas públicas e cotas na universidade, na paróquia de São Brás de Plataforma, no subúrbio ferroviário de Salvador, a vereadora Marta Rodrigues garantiu que as políticas afirmativas são medidas especiais e temporárias, somadas ou determinadas pelo Estado e/ou pela iniciativa privada. Espontânea ou compulsivamente, pretendem eliminar as desigualdades historicamente acumuladas, garantindo a igualdade de oportunidades e tratamento. ambicionam ainda compensar perdas provocadas pela discriminação e marginalização de grupos sociais, étnicos, religiosos, de género e outros, até que se atinja a igualdade de competitividade.

Questionada sobre o desafio das desigualdades no Brasil, a vereadora afirmou que, o país é estruturalmente uma sociedade desigual (patrimonialismo, racismo e sexismo), gerando enormes desigualdades raciais, de renda, género e território. além disso, as políticas públicas universais não conseguem universalizar direitos e atingem homens e mulheres negros/as e brancos/as de forma desigual. Conforme dados da CDM (Cooperação para Desenvolvimento e Morada Humana), 45 por cento da população em idade activa não gera renda alguma, 59 por cento tem renda de domicílio, que chega apenas a meio salário mínimo. Do total da população de estudantes, 71 por cento encontram-se em atraso escolar e o índice de abandono é de 21por cento. a escolaridade reduzida e a falta de capacitação profissional dificultam o ingresso do jovem no mercado do trabalho, elevando os índices de vulnerabilidade à violência, reduzindo as oportunidades de desenvolver o potencial da pessoa do ponto de vista físico e psicológico.

Porquê realizar um programa de acções afirmativas no ensino superior e não apenas na educação básica? Respondendo à pergunta, a vereadora afirmou que, enquanto não modificarmos o modo como aprendemos e fazemos conhecimento, de nada adianta ampliarmos o acesso dos pobres e negros ao ensino. a presença de não-brancos nas instituições de ensino superior é da ordem de três por cento, o que implica um esforço no cimo e no baixo da escala do sistema de ensino, senão iremos reproduzir conteúdos e professores que, por sua vez, irão reproduzir um conhecimento ideologicamente comprometido com a manutenção do racismo. É preciso ter consciência do património histórico-cultural, arquitectónico, ambiental e religioso; que a dificuldade do acesso a saberes até então não revelados, impôs uma negação de uma história e de uma cidadania colectiva.

Os Missionários da Consolata estão em Salvador desde 1991, num serviço missionário ad Gentes em ambiente periférico, sociologicamente pobre e culturalmente afro-brasileiro. Colaboram activamente para ir ao encontro das necessidades fundamentais do povo baiano, com projectos sociais. Pretendem promover o bem-estar social e a cultura afro-baiana, privilegiando sempre a situação pessoal e de grupos mais desfavorecidos ou excluídos. Mantêm diversos tipos de várias parcerias: Pré-Vestibular alternativo, Coequilombo com o Fórum dos Quilombos Educacionais da Bahia, Pré-IFBa, Quilombinho com Fundação Bem Comum em colaboração com Fundação Clemente Mariani e o Projecto Consolação e Espere – com as famílias sofridas, vítimas de violência e traumas de assassinato.
Michael Mutinda é missionário da Consolata e trabalha na animação Missionária Vocacional, em São Brás, Salvador.