Uma delegação de Maunza veio comunicar-me a morte do velho alexandre Taimo. Tinha-o descoberto numa das minhas visitas pastorais da Páscoa às famílias
Uma delegação de Maunza veio comunicar-me a morte do velho alexandre Taimo. Tinha-o descoberto numa das minhas visitas pastorais da Páscoa às famíliasTaimo vivia sozinho, rastejando pelo chão, pois era paralítico. Dada a sua circunstância de pobreza e desamparo inserimo-lo imediatamente na lista dos necessitados que recebem apoio da paróquia e recomendei à comunidade cristã que zelasse por ele. No ano passado, já em perigo de vida, foi baptizado. Esta semana, em Maunza, comunidade de Guiúa, Inhambane, onde viveu, celebrei a Missa de corpo presente e acompanhei o seu corpo à sua última morada, sob a copa frondosa de uma secular mafureira, a dois passos da sua palhota. aqui, os funerais são profundamente participados. O ambiente é formal e sereno. Não se ouve um choro, mas escuta-se a despedida de forma ensurdecedora. Todos se sentam no quintal, à volta da mesa do altar e do caixão. O catre é feito ali mesmo, com tábuas de coqueiro e forrado com pano branco por dentro e pano preto por fora. Dentro do caixão há espaço para os objectos pessoais do morto, coisas simples, como um velho chapéu que toda a vida usou na cabeça. Canta-se prolongadamente e muito e bem, sem tocar qualquer instrumento. São cantos bonitos que falam da morte e da vida. É que a morte afinal, faz parte da vida e aqui é vivida como tal. Na sabedoria deste povo simples, aprendemos com serenidade que pensar a vida é também pensar a morte. ao sepultar os seus entes queridos junto às suas casas, sempre sob uma árvore, os que ficam, preservam a memória de quem parte e ao fazê-lo dão um testemunho de afecto e união que já desaprendemos nas sociedades mais modernas, que arredaram esta realidade para as periferias e reduzem as celebrações ao estritamente necessário. a comunidade de Maunza reuniu-se em peso e, num silêncio eloquente, despediu-se do seu irmão, que soube acompanhar, visitando-o e provendo-lhe a subsistência, até ao último dia.